O Capitão acordou com o corpo entorpecido e a mente embotada, mas sabia que muitas pessoas dependiam de seu comando, não poderia se entregar ao torpor se ainda lhes restassem forças.

Quando se levantou, percebeu que havia machucado a cabeça, e que possivelmente havia passado mais tempo do que imaginara inconsciente.


Devido a colisão, todos os personagens que entrassem em cena deveriam fazer um teste de Atletismo ou Musculatura (Normal) para verificar se haviam sido feridos. Não sendo bem sucedido, o próximo passo seria determinar o local do corpo afetado. Dependendo do local atingido o personagem poderia ficar inconsciente. No caso do Capitão, o resultado foi a cabeça. Todos os feridos permaneceria funcionais, mas realizariam atividades que exigissem a utilização daquela parte do corpo com um nível de dificuldade maior, mas o efeito seria apenas temporário.


A situação era caótica. A nau adernava perigosamente e todos corriam contra o tempo para evacuarem a embarcação antes que afundasse. O capitão foi até a amurada e avaliou a extensão dos estragos. A menos que houvessem colidido próximo de um estaleiro, a Nau Paraíso não voltaria a navegar, a despeito dos esforços dos melhores carpinteiros.

Os marinheiros mais experientes já haviam baixado os esquifes e ajudavam os demais a descerem. O plano era levar todos até a praia o mais rápido possível. Cerca de 300 metros separavam a nau da praia, cuja faixa de areia não tinha mais que essa mesma distância.

A pequena faixa de praia ficava na base de uma enorme falésia, um imenso paredão de rocha negra que se elevava a mais de 200 metros em alguns pontos. Do ponto do naufrágio não era possível divisar um local por onde todos pudessem subir, e o enorme paredão se estendia por quilômetros nas duas direções.

A tempestade se fora. O mar estava calmo e as nuvens começavam a se dissipar, com a claridade de um entardecer.

O Capitão lembrou-se então de todas as pessoas que estavam nas cobertas e no porão e saiu correndo até lá. Enquanto corria, orava para que as pessoas estivessem em melhores condições do que a embarcação. Ajudou algumas pessoas enquanto descia e observava grandes buracos abertos no casco, gritando ordens para ajudassem e se apressassem.

Falésias de Moher na Irlanda. Claramente a inspiração para o local de chegada da Nau Paraíso, embora em nosso mundo fantástico. Iguais em alguns aspectos, diferentes em muitos outros.

As pessoas que sabiam nadar pulavam da amurada levando apenas a roupa do corpo, ou no máximo algum saco com comida ou outras coisas mais leves, nadando apressadamente para a praia.


Com o mar calmo, a tempestade dissipada e uma profundidade relativamente pequena, nenhum teste de Natação seria requerido para aqueles que fossem treinados nela. Já para aqueles que não fossem peritos, a solução mais segura seria esperar os esquifes.


Perto do porão, o Capitão encontrou com Marco de Alfenas, carpinteiro chefe da nau, que claramente havia machucado o braço direito e procurava por seu irmão, suas ferramentas de carpintaria e Nino, seu papagaio. Em uma breve conversa, ele confirmou as suspeitas e condenou a embarcação.

Marco, depois de encontrar quem procurava, segue até o convés, ajudando algumas pessoas a subirem nos esquifes até que chegue a vez de seu irmão e de suas ferramentas embarcarem. Ele observa a praia e percebe que a maré ainda está baixando e que pelas marcas no paredão, a água pode chegar até os três metros de altura.


Um teste bem sucedido de Local (Fácil) revela esses pequenos detalhes, que ajudam a guiar a tomada de decisões dos personagens.


Thales, um comerciante que entregou também a sua vida ao mar, era mais um que procurava pelos seus parentes. Ele havia claramente machucado o abdômen, mesmo assim ajudava outros passageiros a chegarem até o convés.

Quando encontra com seus dois irmãos, e ajudam várias pessoas a subir nos esquifes, se jogam ao mar e nadam até a praia, onde continuam a ajudar mais pessoas a descer dos esquifes e chegarem até a praia.

Antes de subir em um dos esquifes, Marco de Alfenas volte às cobertas e procura em alguns caixotes, lembrando-se que vira algo que poderia ser útil. Ele demora algum tempo vasculhando os caixotes e com um pouco de sorte encontra duas pistolas, possivelmente as duas únicas armas de fogo que foram trazidas a bordo da embarcação.


O jogador gastou um Ponto de Sorte e eu rolei 1d6 para ver quantas armas de fogo foram encontradas, resultando em duas pistolas.


Ele espera o próximo esquife e a medida que se aproxima da praia percebe que menos da metade dos passageiros já desembarcaram. Muitos estão envolvidos na tarefa de acolher quem vai chegando. Enquanto alguns pranteiam, muitos simplesmente agradecem por estarem vivos, fazendo suas orações.

Thales e Marco decidem montar dois grupos, cada um com dez pessoas, e seguirem para lados opostos, cada um levando consigo uma das pistolas, que deve ser disparada quando um grupo encontrar um ponto que dê acesso a parte superior.

Após caminhar por cerca de meia hora, o grupo liderado por Thales avista um ponto que pode ser utilizado para subir, mas ele deve estar a cerca de quatro s horas de caminhada, considerando as condições dos demais passageiros. Thales então entrega a arma a Guidania, instruindo-a a seguir junto com os demais membros do grupo, enquanto ele retorna à praia para buscar os demais. Ele pede que assim que eles chegarem ao ponto de acesso, que atirem. Os dois grupos seguem, apressando o passo.

Marco e seu grupo, caminhando na direção oposta, seguem por meia hora sem avistar sinais de subida, nem próximos nem adiante e o mesmo começa a orar pela intercessão dos santos, mas continua a sua caminhada, observando as aves marinhas e sinais que lhe possam ajudar a ler a geografia do local.

Cerca de 20 minutos mais tarde, Thales chega até a praia, espera que os últimos passageiros saiam da nau, o que não demora muito, e então partem na direção que haviam avistado a subida, sem contudo ter ouvido ainda o estampido esperado.

Algumas pessoas caminham sendo ajudadas por outros, inconsoláveis por suas perdas. Doze passageiros não foram encontrados. Três deles era sabido que haviam morrido devido o incidente com as serpentes marinhas. Nove, contudo, não foram encontrados, mas todos foram obrigados pelo capitão, último a descer da nau condenada, a sair imediatamente.

Do outro lado, Marco continua andando com seu grupo e já estuda subir o paredão, se a maré começar a subir. Embora ele consiga ver muitos apoios para uma escalada, a subida ainda é arriscada, o que poderia ser significativamente minimizado se eles possuíssem equipamentos para escalada, algo que ele duvidava que tivesse sido trazido a bordo.

Continuando em frente, eles chegam até uma queda d’água, o encontro de um rio com o mar. Rapidamente todos saciam a sede e Marco pede que três dos mais aptos retornem o mais rápido possível até o local na praia onde deixaram os náufragos. Os demais, aproveitando-se dos inúmeros apoios subirão o paredão.

Aproximando-se do paredão rochoso, Marco dispara a pistola, depois de fazer uma oração na esperança de que ouçam o barulho.

Pouco antes, o grupo liderado por Thales ouve o estampido do seu grupo primário que seguiu a frente. Animados, eles conseguem adiantar um pouco mais o passo. Um segundo estampido é ouvido pouco tempo depois, mas muito mais fraco e na direção oposta. Eles decidem por continuar em frente.

Enquanto três membros do grupo de Marco disparam pela praia em direção a área do naufrágio, os demais sobem o paredão sem muita dificuldade.


Nesse ponto, a quantidade de apoios é suficiente para que todos consigam subir facilmente, embora demande um certo tempo e um pouco de habilidade para que não sejam necessários testes. Embora as pedras estejam molhadas, a ação da água entalhou suficientes apoios para uma subida segura.


Já na parte de cima, onde eles tem uma visão mais ampla do oceano a sua frente, veem que estão na margem de um rio com cerca 200 metros até a outra margem. Uma floresta parece contornar toda a borda da falésia e decidem retornar até o local do naufrágio e encontrar os demais, levando as boas novas da descoberta de um local com água fresca.

Seguem então margeando a beirada da falésia, e quando chegam no local do naufrágio, não veem mais ninguém. Continuam a caminhada, com Marco contando os seus passos desde o rio.

Tem muito mais informação do que deveria realmente neste mapa, mas a ideia é essa. Esse mapa foi feito utilizando o programa Wonderdraft.

Os esquifes seguem margeando a praia, carregando aqueles que estão mais feridos, algumas ferramentas e alguns mantimentos, o máximo que foi possível e seguro levar nas pequenas embarcações.

O grupo maior chega até uma pradaria, e ficam a mercê das intempéries, sendo necessário pelo menos um pouco de lenha para passarem a noite. A distância é possível divisar uma floresta, que Thales estima estar a cerca de 2 km do ponto onde estão, e pede que um grupo de 20 pessoas seja formado e vão coletar lenha. Eles demoram mais tempo do que o previsto, mas retornam relatando que encontraram uma estrada feita de pedras próximo da floresta.

Já é noite fechada quando o grupo de Marco passam a uma cerca distância do que eles acreditam ser ruínas, mas a urgência em encontrar-se o mais rápido possível com o grupo é maior e por volta das nove horas, todos se reúnem.

As pessoas dividem, à beira das fogueiras formadas, uma alimentação seca, que certamente os faz se sentir melhores, embora a quantidade seja insuficiente para mantê-los adequadamente nutridos.

Mais tarde, Vasco de Ataíde se reúne com Thales e Marco, agradece pelo que fizeram e pede um relato. O fato de terem passado por uma estrada de pedras os deixa esperançosos e ao mesmo tempo preocupados.

Marco sugere que retirem o máximo que for possível da nau (mantimentos, tecidos, pregos, cordas), incluindo a própria madeira, que poderá ser usada na construção de algo que os ajude. Ele fala do rio, mas também informa que é necessário uma longa caminhada até lá.

Eles também discutem a necessidade de ficarem próximo da costa, com fogueiras preparadas para o caso de avistamento de algum navio que os estejam procurando.

Olhem para o céu. A lua parece a mesma, o sol parece o mesmo, mas não há nenhuma estrela que se assemelhe àquelas que normalmente usamos para navegação. As estrelas simplesmente parecem estar no lugar errado.

Marco também pergunta se Vasco conseguiu localizar-se através de uma carta náutica. Preocupado, o capitão olha para o céu, agora limpo, e por saber que eles são marinheiros experientes, pede que tentem reconhecer alguma constelação que sirva de referência. Após um tempo, ele diz que as estrelas não parecem ser mais as mesmas. Todos os padrões estão errados. Embora a lua pareça a mesma e o sol também, as estrelas guias não estão lá.

Com preocupações mais práticas, Marco retorna a recomendar que o foco fosse agora a formação de equipes para conseguirem recuperar o que for possível.

Thales, que também é desenhista, fica incumbido de mapear o que for possível, de forma que consigam entender melhor onde estão.

Todos de acordo, voltam a se juntar com algumas pessoas mais próximas e então ouvem, a distância, o uivo de um lobo.

Por um momento eles se entreolham. No céu, uma listra azul, o cometa que os atraiu inicialmente para uma pequena mudança de direção, passa silenciosamente, mais próximo e seguindo na direção oposta à que o haviam visto antes de entrarem na tempestade.


Abaixo a nossa sessão gravada no Youtube. A gravação foi postada sem edições, e foi gravada no susto pelo Caco, que interpreta o Marco em nossa aventura.

https://youtu.be/bit29COZ7to
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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.