Filhos do BRP

Quando escrevi sobre o Magic World e o comparei ao RuneQuest 6, o Pedro Ziviani, autor do Mythic Iceland me inquiriu a fazer um comparativo entre o Magic World, RuneQuest 6, OpenQuest e o Legend.

Como normalmente faço, topei a parada e aqui estamos nós, comparando os quatro RPGs.

O Legend foi o mais difícil de encontrar (existem muitos Legends na lista da DriveThruRPG), mas como o Fernando Pereira disse que ele estava custando 1 dólar, restringi minhas buscas e eis que o encontrei.

Todos os sistemas utilizam o Basic Roleplaying System, criado em 1978 para o RuneQuest cuja ambientação é o fantástico mundo de Glorantha e sendo assim possuem muita coisa em comum, a começar a ambientação fantástica medieval.

PREÇOS, FORMATOS E ONDE COMPRAR


Embora seja possível adquirir a versão física do Legend, Magic World e RuneQuest 6th Edition, eu tratarei aqui somente das versões digitais, que foi as que adquiri. 

O OpenQuest pode ser baixado gratuitamente no site do d101 Games, vindo em um kit de desenvolvedor zipado, com doze documentos do word separados e com uma formatação horrível e muitas vezes desencontrada. Quem tiver interesse pode baixar o OpenQuest Developers Kit.

Os outros três livros são vendidos na DriveThruRPG (Legend e RuneQuest 6th Edition) e no site da Chaosium (Magic World) em formato pdf aos preços de 1 dólar, 25 dólares e 22 dólares respectivamente.

O TAMANHO DA LEITURA E DIVISÕES


O OpenQuest, dividido em 12 arquivos de word e com formatação irregular não me dá muitos parâmetros, porém, procurando com cuidado é possível encontrar uma versão em pdf das regras do OpenQuest com 150 páginas.

O RuneQuest 6th Edition sai na frente em número de páginas, sendo um calhamaço de 458 páginas, seguido pelo Magic World (mas nem de perto) com suas 276 páginas e deixando em último lugar o Legend com 242 páginas.

A figura abaixo mostra como estão divididos os capítulos em todos os livros.


O Legend é o único que não apresenta um bestiário, e o RuneQuest 6th é o que apresenta o maior, dedicando 88 páginas as criaturas que podem ser encontradas, mas não se limitando a elas.

AS SEMELHANÇAS


Os quatro sistemas utilizam o mesmo método de criação de personagens, que consiste na jogada de dados para cada um dos atributos, que podem variar de acordo com a raça escolhida. O Legend e o RQ6 apresentam a opção de compra por pontos das habilidades, deixando o sistema mais equilibrado e menos dependente da sorte.

O valor inicial das perícias é determinada pela soma de duas habilidades, exceto no Magic World, que utiliza um valor base, a partir do qual pontos são alocados para formar o valor final. Vejam o exemplo:

PERÍCIA AVALIAÇÃO

Legend: Inteligência + Carisma

Magic World: 15%

O sistema de jogo mantem a mesma base para todos, variando alguns pequenos aspectos, como por exemplo, a utili
zação de pontos de vida localizados no Legend/RQ6 e pontos de fadiga, que adicionam um charme todo especial a estes dois sistemas.


O OpenQuest e o Legend trazem um sistema de magias dividido em três tipos: magias de combate (magia comum), magias divinas e feitiçarias. O Magic World apresente somente a feitiçaria, argumentando que qualquer outra forma de magia deriva desta e o RQ6 divide a magia em magia comum, animismo (druidas), misticismo (monges), feitiçaria (feiticeiros e magos) e teísmo (clérigos). 

A princípio pensei que a abordagem do Magic World é a mais coerente, no entanto, existem muitos outros aspectos que devem ser considerados e que são tratados de forma muito interessante no RQ6. Não somente o tipo de magias/poderes são diferentes, como a forma de obtê-los, e os níveis em determinadas hierarquias precisam ser atingidas para que se possa ter acesso a esses poderes.

Este cuidado em amarrar as formas de magias a hierarquias e níveis dentro delas, geram grandes potenciais para campanha, pois os personagens, pois mais poderosos que sejam, podem não ter acesso a determinadas esferas que lhes apresentem os segredos da congregação/templo/escola de magia.

Outro aspecto que faz com que o RQ6 e o Legend se saiam melhores que o Magic World e o OpenQuest é o capítulo sobre as guildas, facções, cultos e irmandades. Pode até parecer bobagem, mas as informações contidas nestes capítulos ajudam mestres de qualquer sistema.

E O BRP?


O BRP, ou Basic Roleplaying System, é o códice de regras que embasam todos os sistemas acima, que possuem todos uma temática medieval, porém, ele vai muito além e apresenta em suas 404 páginas, um sistema genérico predecessor do GURPS.

Assim como os livros que derivam dele, os seus capítulos estão estruturados da mesma forma, valendo muito a pena a leitura do capítulo introdutório, no qual os leitores são apresentados a um pouco da rica história do RPG e de como surgiu o sistema.

O sistema é incrivelmente modular e o grupo pode optar por jogar com nenhuma regra opcional ou com todas elas, sem incongruências no conjunto.

Os personagens são criados através da distribuição de pontos ou sorteio de habilidades e as perícias são determinadas baseadas nas profissões e ocupações, sendo algumas mais ou menos indicadas de acordo com a época na qual se passa o jogo, que cobre da idade das cavernas (mas você pode jogar antes disso) até o futuro cyberpunk distante. 

Por serem mais específicos, os sistemas ambientados (discutidos acima), são mais generosos na criação de personagens, enquanto criar um personagem baseando-se exclusivamente nas regras do BRP, tal qual são apresentadas, fato que já me fez diversas vezes afirmar que ele é o sistema perfeito para rolar aventuras de Ravenloft.

Da lista de habilidades passamos direto para os poderes, que são divididos em cinco classes: magia (clássico para fantasia medieval), mutações (supers, gamma world), habilidades psiônicas (supers, fantasia), feitiçaria (fantasia medieval) e super poderes. Um aspecto interessante é que todos eles funcionam de forma similar, por exemplo, retirando energia de um mesmo atributo, sem a necessidade de um sistema separado para cada um tipo de poder.

Os demais capítulos do livro são dedicados ao mestre, trazendo dicas e ajudando o narrador a criar suas próprias aventuras, em qualquer época.

O BRP também possui a descrição dos sistemas de Aliança, que são empregados, por exemplo, no Mythic Iceland para demonstrar o seu grau de ligação com os deuses e no Magic World para demonstrar o seu grau de ligação com as forças cósmicas (sombras, equilíbrio e luz).

E AFINAL DE CONTAS O QUE COMPRAR?


Em minha primeira incursão ao mundo dos D100 da Chaosium, fiz a viagem adquirindo um volume do BRP e do Mythic Iceland, vindo a conhecer os demais sistemas depois. 

Quando se trata de ambientação genérica, ou mesmo se você estiver interessado apenas em um conjunto de regras para usar com a sua ambientação favorita eu indico fortemente o BRP. Caso você precise de uma ambientação pronta, com material de suporte, capacidade de inserir mais complexidade ao jogo, sem contudo diminuir o ritmo e é fã de ambientações medievais, minha sugestão é o RQ6. Caso o dinheiro seja problema, sugiro uma passada urgente na DriveThruRPG para adquirir o Legend por míseros 1 dólar e aproveitar muito do que o RQ6 tem para oferecer.

O OpenQuest e o Magic World são livros que eu realmente não aconselho. O primeiro pela confusão em alguns capítulos e sua formatação e o segundo por ser desnecessário se você já conhece ambientações medievais e precisa apenas de um sistema.


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Visualizar Comentários (6)
  1. Boa comparação! Concordo com a sua conclusão. Eu já usei BRP para jogos com cenários variados, desde fantasia (inclusive Ravenloft) até sci-fi, e a modularidade do sistema é sem dúvida o seu ponto mais forte, junto com um equilíbrio quase perfeito entre simplicidade e realismo. Eu gosto bastante do RQ6 também, principalmente para usá-lo com o cenário de Glorantha.Eu não diria que o Magic World é um livro ruim, no entanto, ele cumpre sua proposta de ser um RPG de fantasia genérico, trazendo algumas regras à mais dentro do gênero de fantasia que não aparecem no BRP, como regras de navegação, por exemplo.

    1. Eu juro que fiquei na dúvida de quem era você Pedro :)Eu realmente não gostei do Magic World e realmente não recomendo, SE você puder adquirir algum dos outros livros. O Magic World eu recomendaria apenas SE você não quiser comprar o BRP e quer um cenário de fantasia medieval genérico.Bem, mas no final, o artigo está aí: “missão dada, é missão cumprida” 🙂

  2. Excelente comparação. Vale dizer que existem muitos livros interessantes de ambientação para o Legend, que estão na casa dos U$ 11,99, e expandem muito o jogo. Pessoalmente, eu prefiro o RQ6, mas acho o custo/benefício do Legend e os livros de apoio uma opção muito interessante.Parabéns pelo artigo.F.C. Pereira

  3. Parabéns Franciolli, e bem-vindo de volta. Ainda bem que a Forja não morreu. Sinto como se tivesse escrito esse post pra mim! (rs) Gostei muito. Lembrando que:1) De todos os analisados, OpenQuest e Legend são OGL!!!2) Legend é a segunda versão das regras da Mongoose (teve o Mongoose’s RQ I, o MRQ II, que mudou de nome e virou Legend, mas tem as mesmas regras).3) O OpenQuest deriva do MRQ I, e tem regras mais antiquadas e quebradas mesmo.4) OpenQuest 2 já está em desenvolvimento, deve sair logo.5) Consultem um post no meu blog sobre o Sistema BRP/d100:http://www.gurpzine.com.br/rq-brp-oq-gore/

    1. Um excelente retrospecto histórico Nerun. Fantástico.Eu gostaria muito de ver este sistema popularizado, quem sabe com a vinda do Chamado de Cthulhu isso não aconteça?

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