One shot: Revolução

One shot #07 Revolução

Iniciando nossa série de encontros semanais, a coluna “One Shot” trará ideias para suas aventuras. A princípio não trato de um único sistema, mas no decorrer destas linhas muitas vezes surgiram citações, descrições e regras voltadas a jogos como o D&D, WoD e muitos outros. Então convido vocês a darem segmento a essa nova empreitada.

Aventura: Revolução

Em nossa sexta edição, iremos abordar um assunto peculiar em nossas campanhas de RPG, as revoltas armadas fazem parte da história de qualquer sociedade, sejam revoltas civis ou militares, governos despóticos como os da Rússia pré-leninista ou mesmo o sentimento ufanista de uma revolução fazem despontar, no seio da sociedade, tanto a vontade quanto a necessidade de ir as armas.

Uma cidade dominada

A grande cidade de Fronteira Escarlate (nossa cidade fictícia, você pode utilizar a cidade de seu mundo de campanha que se adaptar melhor) ficou conhecida no pós-guerra contra o Império das Sombras, uma cidade segura para viver e criar seus filhos, longe da confusão das rotas comerciais muitas pessoas fixaram residência. Sua explosão demográfica foi tão exacerbada que acabou por sair do controle, a todo tempo o regente e seus construtores ordenam a edificação de novos muros, os bairros crescem na parte externa num piscar de olhos.

Na noite anterior, Vilmar um herói da casa Bourbon, conhecido como Barãozinho, retornou a sua família que festejou por toda a noite os feitos do campeão, pela manhã o rapaz foi recebido pelo regente. É aí que nossa aventura começa.

O Barão Vilmar Bourbon descobriu um artefato mágico em sua viagem, um par de luvas de ferro tão pesadas que nenhum homem poderia erguer, com a ajuda de um companheiro ele descobriu se tratar de um artefato mágico que aumentaria absurdamente suas habilidades de combate, às Manoplas do Herói Intrépido, foi este o nome que o mago deu ao item.

Retornado da campanha e de posse de tal artefato, o caráter do herói mudou radicalmente, o que seu amigo mago não havia conseguido descobrir é que naquele artefato residia um espectro aprisionado, uma criatura forjada em pura ambição, ele envenena a mente de seu usuário com desejos de megalomania e cobiça, além disso, cada um de seus adversários, uma vez derrotados, se tornariam vultos ao comando do portador.

Vilmar ergueu seu martelo durante a cerimonia e ceifou a vida do regente, depois cada um dos lideres das casas comerciais, o capitão da milícia (tido como o maior espadachim da cidade) e vários outros membros da guarda, que ou juraram fidelidade ao novo regente ou caíram ante o peso de seu martelo. Com a ajuda de alguns aliados, tão gananciosos quanto ele, em dois dias o golpe havia se instaurado nas muralhas do castelo, as pessoas já comentavam nas ruas, o medo se espalhou.

Agora, o Barão Bourbon é o soberano da cidade de Fronteiras Escarlates e sua primeira ordem é a de aprisionar todos os opositores, as muralhas foram fechadas e os portões reforçados, todos aqueles que tentam entrar na cidade são convidados a se retirar por uma saraivada de virotes. A maioria dos membros da milícia é formada de homens sem instrução e, por tanto, acabam por obedecer sem questionar as ordens do regente, mas enquanto isso onde estariam as/os personagxns das/dos jogadorxs?

Se forem da cidade eles poderiam ter sido pegos de surpresa, estando em outra aventura, e agora retornando prósperos na busca por seu prêmio iram encontrar os portões da cidade fechados, os muros vigiados, além dos avisos de “forasteiros não são bem-vindos”. Alguns ganchos interessantes para ligar as aventuras:

  • As/Os personagxns teriam ido resgatar um sobrinho do antigo regente, ele, por qualquer motivo, havia sido sequestrado e como o atual soberano da cidade mandou eliminar todos os membros da família real, os personagens estariam agora com a única pessoa que poderia reclamar o trono aviltado;
  • O barão poderia ser um antigo companheiro de aventuras e que, por algum motivo, se desentendeu. Cabe a você narradora/narrador escolher um personagem que se encaixe com a ideia no seu portfólio de pdms, assim já existiria algum envolvimento prévio, o que tornaria mais interessante à crônica.

A situação atual da cidade é a seguinte:

  • O novo regente está cercado de pessoas ambiciosas a sua volta, neste momento elas aproveitam para realizar suas vinganças pessoais caçando pessoas graças ao decreto que restringe a liberdade da população, alegando que esses inimigos são, na verdade, pessoas que podem “ir de encontro aos interesses do regente”;
  • O toque de recolher imposto aos habitantes é rigidamente seguido, qualquer pessoa encontrada nas ruas amargará 60 dias de prisão e 10 chibatadas por dia ao descumprir essas ordens;
  • Muitas pessoas influentes estão foragidas nos esgotos, rumores dizem que uma resistência esta sendo formada e em breve uma revolta popular pode acontecer nas ruas da cidade;
  • Muitas pessoas influentes da liga dos comerciantes estão aprisionados e em seus lugares estão fantoches que seguiram apenas as ordens do regente;
  • Água e alimento são distribuídos à população periodicamente, membros da guarda e das casas comerciais cuidam desse serviço usando-o como moeda de troca para conseguir favores dos populares, aqueles que se recusam, geralmente só recebem metade do escopo diário ou nenhum e acabam por amargar alguns dias de cadeia por desacatar autoridade;
  • Depois de destruir a família real e tomar conta do trono o Barão Vilmar seguiu diretamente a sede de uma das guildas de ladrões da cidade, os mercenários conhecidos como “senhores das sombras”. No local, iniciou um banho de sangue com a ajuda de alguns membros da milícia, vários ladrões, criminosos perigosos e arruaceiros que faziam parte do bando jaziam mortos, e depois de arrastar até a praça da cidade o quase vivo Lucian (um bandido inescrupuloso e temido por todos) ele esmagou seu crânio em praça publica e ordenou que cada corpo fosse decapitado e dependurado em praça publica como símbolo de sua justiça e de proteção ao povo.

Os cidadãos vivem com medo, no entanto, alguns já têm certo partidarismo pelo novo regente que usa suas próprias mãos para manter as ruas seguras e limpas. As pessoas mais entendidas sabem que isto não é correto, mas estão impedidos de falar, existem leis severas contra qualquer um que seja pego ou mesmo seja acusado de confabular contra o bem-estar da cidade e a ordem publica.

Do outro lado destes fatos, muitos já participam da resistência armada que tentará destronar o cruel déspota, planos de invadir o castelo e destruir o estoque de armas já estão em curso. Os planejamentos incluem:

  • Furtar as lojas de armas e galpões da liga dos ferreiros, que é a favor do atual regente, usando rotas nos esgotos para se aproximar das casas comerciais à noite e invadi-las levando o máximo de equipamento possível;
  • Tentar convencer os homens da milícia a se insurgirem contra o regente, muitos deles não aceitam as decisões do alto comando, no entanto, respeitam a hierarquia militar, só não se sabe quanto tempo essa obediência irá durar e é isso que os rebeldes querem por fim;
  • Incendiar o local onde as armas da guarda real e dos milicianos estão estocadas;
  • Realizar um assalto conjunto ao castelo e passar o trono a um governante justo.

Para que os/as personagxns (isso se eles optarem por ficar do lado da rebelião) possam vir a ter uma interação com estes planos, o ideal é utilizar personagens que já existem em sua campanha, se você utiliza a cidade de seu cenário de campanha, vai ficar bem mais fácil. Aqui vão algumas sugestões:

Raghnash, A “Calda Negra”: Esse Halfling é um temido assaltante, o principal homem de Lucian, líder dos senhores das sombras, mesmo tendo uma visão distorcida das leis e da sociedade ele é um homem honrado que nunca matou ninguém que não estivesse em seu caminho, sua fama se da mais pelas pessoas que ele deu descaminho que pela quantidade, agora ele deseja vingança contra aquele que matou seu único aliado e humilhou sua organização criminosa.

Vinard Solfen: A Sacerdotisa da Deusa da Luz conseguiu fugir após a reunião com os templos que o Barão convocou, suas ordens eram exatas, extinguir a ordem e jurar fidelidade ao regente ou a morte. Quando a Líder se negou a fidelizar a ordem o resultado foi apocalíptico, o próprio regente se ergueu de seu trono e começou a esmagar um-a-um os membros. Solfen correu desesperada, quando uma das empregadas do castelo lhe deu rota segura para fuga ao custo de sua vida, ela jurou honrar o sacrifício da amiga. Hoje ela trabalha junto aos rebeldes curando suas feridas e orientando com sabedoria as ações do grupo.

Borris Cajado de Amethysta: O mago Borris foi à pessoa que identificou as luvas mágicas encontradas numa masmorra a alguns meses, do grupo de aventureiros ele era o único que, como o Barão, vivia nessa cidade. Depois de concluída a missão cada um seguiu seu caminho, o mago notou que seu amigo estava visivelmente diferente o que só veio ligar ao uso das manoplas depois que soube do assassinato do regente, agora ele tenta desesperadamente encontrar uma maneira de destruir aquele maligno artefato.

Bem pessoal, depois disso é só sacar que as/os personagxns podem ter uma grande relevância no conteúdo da história, tente protagonizar, dando voz e vez nas discussões do plano de ação dos rebeldes, descreva a eles cenas em que a população aparenta-se subserviente a vontade do Barão, e lembre-se também de preparar algumas cenas com a guarda da cidade, seria muito interessante que em meio a uma luta com os membros da milícia elas/eles conseguissem convencer os guardas da periculosidade do regente e do erro que estão cometendo ao apoiar suas decisões. As/Os personagxns tem em mãos a oportunidade de tornarem-se ícones da liberdade e terem seus nomes contados e cantados pelos grandes bardos de todo o reino, quem sabe uma pomposa estátua na praça central e alguns títulos de nobreza.

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