De narrador para jogador

Eu trabalhava numa locadora de jogos de video game nos idos de 1995 quando um amigo chegou e me falou de um jogo que se jogava com livros. Na época eu havia finalizado o consórcio de um Super Nintendo e estava para receber a máquina.

Fui a casa desse meu amigo, chamado Iucatan e vi o livro do qual ele falara: Forgotten Realms 2ª edição em português. Fiquei fascinado pelo livro, mas folheando-o descobri que aquele livro não era o essencial para jogar e não tinha descrições de como criar personagens, sendo esta uma função dos três livros básicos do AD&D 2ª edição, lançados pela Editora Abril.

Vendi o video game que acabara de adquirir e fiz uma busca infrutífera por todas as lojas e bancas de revistas em Natal e não encontrei nem sinal de tais livros, apenas uma cópia de Karameikos.

O Forgotten Realms que tínhamos foi trocado por um pequeno conjunto de livros chamado First Quest de uns conhecidos que tinham a caixa vermelha de D&D.

Módulo de aventuras do First Quest, minhas primeiras aventuras.
Módulo de aventuras do First Quest, minhas primeiras aventuras.

Iucatan, utilizando o módulo de aventuras do First Quest, narrou a primeira aventura, na qual eu interpretei Morghant o Misterioso, o mago do grupo.

No final da aventura, resolvi pegar o módulo e fazer uma leitura de tudo que existia, explorar todas as possibilidades e falei com o Iucatan que ele tinha deixado passar um monte de coisa, foi então que ele pediu para jogar e pediu para eu narrar a próxima aventura. A experiência foi fantástica e de lá pra cá, nunca mais parei de narrar, em parte porque não deixaram.

Quando eu comecei a narrar, o fiz por acreditar que poderia fazer melhor e os jogadores atestaram isso, ou simplesmente ficaram na cômoda posição de jogador – que diga-se de passagem, é a mais cômoda do jogo.

Entretanto, da mesma forma que eu tinha expectativas como jogador – jogar uma aventura desafiadora, excitante e na época fiel ao que estava no livro – eu também tenho expectativas como narrador e estas são muito maiores e acredito que essa seja uma opinião partilhada por todos os narradores: somos nós, os narradores, aqueles que possuem as maiores expectativas no jogo.

Nós queremos criar algo que seja único, fazer os jogadores vivenciar experiências fantásticas dignas de filmes como Matrix, Senhor dos Anéis, Entrevista com o Vampiro e tantos outros. Queremos escrever uma história que seja memorável e ao mesmo tempo divertida.

Um narrador não conseguirá fazer sua campanha memorável, no entanto, se seus jogadores não colaborarem, se seus jogadores não lhes falarem sobre suas expectativas em relação ao jogo, o que eles querem – pelo menos as linhas gerais.

Os narradores agradecem a troca de informações e ficarão muito mais satisfeitos com o feedback dos jogadores, pois somente em conjunto é possível criar aventuras realmente épicas. 

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