Resenha – Microscope RPG

Conheça Microscope: um RPG fractal de historias épicas

Aviso: Esse texto é uma repostagem do Paragons. Você gostaria de um RPG que permitisse a você e seus amigos criar uma história épica de centenas de milhares de anos, sem ter o papel de mestre e sem preparação? E se ele ainda fizesse isso tudo sem que seja necessário se preocupar com ordem histórica ou cronologia, onde qualquer ponto é válido e as idéias de todos os participantes sejam aproveitadas? Isso tudo e mais é possível com o Microscope.

Ganhador do prêmio Gaming Genius Awards de 2011 como Produto Mais Inovador e finalista do Golden Geek Awards de 2011 como RPG do ano, o Microscope é um pequeno mas ambicioso sistema de RPG que permite a criação colaborativa de histórias de forma estruturada. O que o diferencia de outros sistemas semelhantes, como Fiasco e A Penny for Your Thoughts é o foco: o Microscope foi feito para contar histórias épicas que englobam centenas de milhares de anos.

O Livro

Disponível impresso por 20 obamas ou em PDF por 10, eu escolhi comprar minha cópia em PDF. O resultado foi um simpático livro em formato A5 de 80 páginas. Ao contrário de todos os outros livros de RPG que já li, o Microscope não tem nenhuma arte – apenas diagramas e exemplos de jogo. Como ele não foi criado para contar um gênero específico de história, a falta de arte não incomoda tanto, ainda mais em um livro tão bem diagramado como este. Para completar, o texto é de uma clareza que nunca li em nenhum outro sistema, recheados de exemplos e explicações, deixando o sistema bem claro para o leitor. Como destaque posso citar ainda um capítulo com instruções de como ensinar o sistema para novos jogadores: como apresentar a premissa, qual a ordem que as regras devem ser mencionadas, entre outras instruções. Simplesmente genial, algo que deveria estar em todos os livros básicos de RPG.

Visão Geral

Durante uma sessão de Microscope, 2 a 4 jogadores utilizarão apenas pequenos pedaços de papel e lápis – nenhum tipo de dado é necessário. No início da sessão é necessário um leve brainstorm com todos os jogadores. Este é o único momento em que as pessoas podem conversar sobre as idéias e debater o que elas querem fazer. O objetivo é escrever uma frase que resume a história que se quer criar. Alguns exemplos: “O apogeu e a queda de um império antigo”, “Os seres humanos abandonam a Terra para se espalhar pelo universo”. Não precisa ser algo detalhado nem tão interessante – a única necessidade é que seja épico e permita muito conteúdo depois. Todos devem estar satisfeitos com o resultado.

Após a criação da frase, será definido onde irá começar a história e o seu término. Tudo que compreende estes dois pontos é considerado válido para o jogo. Depois é feita a definição da “paleta” do jogo. Um papel com duas colunas contendo “sim” e “não” é passada para todos os jogadores definirem as coisas que eles querem ver na história e as coisas que não podem aparecer. Quando todos estiverem satisfeitos, cada jogador irá criar um “período“, que correspondem a grandes espaços de tempo, e dentro destes períodos pode-se criar “eventos“, que são acontecimentos mais curtos e contidos dentro de um período já existente. Uma guerra que dura muitos anos, por exemplo, seria um período, enquanto uma batalha específica desta guerra seria um evento.

Até então tudo que foi feito foi criar a introdução da sessão. O jogo começa definindo quem será o jogador principal da rodada, que é chamado de lente. Este jogador vai definir o foco da rodada, que pode ser uma pessoa, uma organização, um lugar ou praticamente qualquer outra coisa. Durante esta rodada, tudo que os outros jogadores criarem precisa estar ligado a este foco. Depois disso, cada jogador irá ter sua vez para criar um período ou evento em qualquer ponto da história, apenas escrevendo no papel e explicando para os outros jogadores a sua criação. A grande sacada do sistema é que isso é feito de forma individual: durante as rodadas os jogadores não podem dar nem pedir sugestões para os outros sobre o que eles querem criar. Faz parte do jogo não saber o resultado da história e ter desenvoltura para lidar com o inesperado.

Além dos eventos e períodos, dentro dos eventos podem ser criadas as “cenas“: pequenos momentos da história em lugares específicos e pessoas específicas. Ao contrário dos períodos e eventos, as cenas são criadas em grupo: o jogador atual cria uma pergunta que deve ser respondida na cena e que personagens principais estarão nela. Os outros jogadores então escolhem ou criam seus personagens e todos interpretam a cena. Não existe ficha nem dados, tudo é decidido em grupo onde cada um narra o que seu personagem está fazendo e o que está acontecendo ao seu redor. Em caso de disputas, onde um ou mais jogadores não concordem com o que outro jogador criou ou fez na cena, existe um engenhoso sistema de votação rápida e simples para resolver a disputa.

Para escrever os períodos, eventos e cenas, são utilizados pequenos retângulos de papel. Os períodos são escritos na vertical, os eventos abaixo ficam na horizontal, e atrás dos evenos são colocados as cenas na horizontal. Em cada evento ou período é desenhado um círculo preenchido ou vazio; o preenchido é para eventos ou períodos tristes e/ou trágicos, os vazios para os mais felizes e otimistas.

Após todos os jogadores terem tido sua vez para criar um período, evento ou cena, um jogador irá determinar o “legado“, citando algo que aconteceu ou foi criado nesta rodada e que gostaria que fosse mencionado nas rodadas futuras. O legado é colocado na mesa dobrado, para diferenciar.

O jogo não tem limite de rodadas, e pode ser jogado enquanto os jogadores quiserem, iniciando cada rodada trocando quem vai ser a lente.

Jogando de Fato

Apesar das regras simples, o sistema de Microscope proporciona um jogo com bastante profundidade. Em minha experiência, todos entenderam a estrutura do jogo rapidamente, e em menos de 15 minutos estávamos contando uma história épica de ficção científica.

O que mais me chamou atenção no jogo é o fato de que as pessoas não podem pedir nem dar idéias durante os turnos. Isso faz com que a sessão seja bastante introspectiva, e é impossível não se surpreender com as criações dos outros jogadores.

Devido ao fato de você não precisar criar os períodos, eventos e cenas de forma cronológica, quando outro jogador cria algo que você não gostou tanto fica muito fácil simplesmente ignorar. Por exemplo, durante o turno de outro jogador você pensou em um evento ótimo em uma cidade. Se antes de chegar o seu turno outro jogador destruir a cidade com um bombardeio nuclear, não tem problema – basta criar seu evento antes do bombardeio. Isso pode ser um problema quando todo mundo estiver jogando fazendo isso, mas na realidade é muito mais comum que você tenha uma idéia nova utilizando o que o jogador anterior criou.

Outro ponto bastante comentado pela internet a respeito do Microscope é que ele é uma ferramenta excelente para a criação de cenários para outros sistemas de RPG. Basta uma sessão junto com o seu grupo de jogo para ter como resultado a história inteira do cenário, recheada de idéias que podem ser utilizadas no seu sistema de RPG favorito. Alguns dizem até que essa é a maior utilidade do Microscope, mas eu acho exagero. Nossa sessão de Microscope foi divertida por si só, me
smo sem nenhuma intenção de utilizar posteriormente o que foi criado.

Por falar em continuação, o Microscope também permite que a sessão seja interrompida e continuada depois, bastando guardar os papéis de forma estruturada, para que possa ser colocado da mesma forma depois. A única limitação é que devido a quantidade pequena de texto nos papéis, é recomendado que os jogadores sejam os mesmos da sessão anterior, pois os detalhes vão estar apenas na memória dos participantes.

O único problema que tivemos em jogo foi não termos utilizado o foco de maneira ideal, o que fez com que algumas rodadas parecessem sem objetivo e abertas demais. O foco existe para dar um sentido para a rodada, e deve ser relativamente rígido para colocar todos os jogadores pensando sobre o mesmo assunto.

Conclusão

Se você gosta de contar histórias e tem uma imaginação fértil, eu não poderia recomendar mais o Microscope RPG. Com apenas 80 páginas você vai ter um excelente sistema, perfeito para se jogar quando o grupo não está completo para a sessão normal de RPG. Como ele não necessita de nenhuma preparação nem de mestre, também é um excelente pick-up game para um domingo chuvoso.

Para os que apreciam mais a fina arte de rolar dados e não entendam completamente todo esse hype de RPGs narrativos, talvez o Microscope não tenta tanto apelo. No entanto, mesmo para estas pessoas eu recomendo que tentem jogar uma sessão de Microscope. Vocês podem descobrir alguns lugares novos para exercitar a imaginação sem todo o compromisso e comprometimento dos RPGs comuns.

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