A Procura do Sistema Perfeito

Na minha resenha de Burning Wheel, eu mal consegui me conter ao falar sobre suas inúmeras qualidades – tanto que comecei a resenha falando que ele é o meu “RPG ideal”.  Depois de ler completamente o Burning Wheel Gold de capa a capa, posso dizer que minha opinião continua a mesma ou ainda melhor. Mas, como nem tudo é perfeito…

Para que o Burning Wheel brilhe na mesa de jogo e mostre todas suas qualidades e a beleza do seu design, ele precisa de duas coisas:

  • Player buy-in. Isso significa que os jogadores da mesa precisam se interessar pelo sistema, aceitar suas premissas e “entrar no clima” do jogo. O sistema recompensa quem conhece bem as regras, e ele tem mesmo muitas regras – muito mais que um jogador casual suportaria aprender para se divertir com os amigos.
  • Tempo. A mecânica de evolução de personagem junto com suas crenças, as votações de traits e o avanço das perícias e atributos são parte central do jogo, e só acontecem de forma ideal em uma longa campanha. O Burning Wheel é um jogo que pode até funcionar em uma one-shot, como eu já fiz usando a The Sword, mas ele só vai brilhar mesmo em uma campanha com mais de 10 sessões.

Infelizmente, eu não tenho nenhum dos dois pontos. Levo uma “vida de gente grande” há muitos anos, mas agora a coisa está ainda mais séria: cuidar da casa e todas suas despesas, esposa, filha… O tempo é curto, e o attention-span também, não só meu como da minha esposa também, a jogadora mais importante. Isso significa que dificilmente conseguirei botar o Burning Wheel a prova e realmente aproveitá-los, ao menos não nos próximos anos.

Mas eu não quero desistir do RPG, de maneira nenhuma. E como o mundo não é feito apenas de um sistema – ainda bem – me botei em uma nova caçada, procurando o sistema que seja ideal para minhas necessidades e preferências atuais. E elas são:

  • Baixo nível de preparação. Eu não tenho mais tempo nem paciência para passar horas preparando ou lendo uma aventura antes do jogo começar. Como se não bastasse isso, eu ando preferindo jogos que permitam jogar sem um planejamento detalhado do jogo, onde o resultado final seja imprevisível e uma surpresa para o mestre. Isso acaba excluindo o D&D e todas as suas variações.
  • Regras relativamente simples, que possam ser explicadas facilmente.
  • Um estilo de jogo e ambientação intimamente ligado às regras. Isso acaba excluindo sistemas genéricos como o GURPS.
  • Facilidade para improvisação. Regras que permitam ao mestre reagir com rapidez as ações dos jogadores.
  • Foco nos personagens. O drama e os objetivos dos personagens devem estar em primeiro lugar.
  • Uma ambientação que agrade a todos do grupo. Dogs in the Vineyard? Fora (infelizmente). Isso também inclui tudo que for oriental, devido a preferências do grupo.

Enquanto escrevia os pontos acima, não pude deixar de pensar em um jogo que se adequa a todos: Mouse Guard. Ele obviamente está na lista, mas a estrutura de jogo rígida dele acaba diminuindo o potencial dele para se tornar o “jogo da vez”.  Recentemente eu comprei o excelente Dungeon World, uma adaptação do também espetacular Apocalypse World, mas ao invés de um mundo pós-apocalíptico, temos o D&D clássico, só que em uma visão completamente nova. Tanto o DW quanto o AW são boas opções e também serão considerados.

Considerei também o estupendo King Arthur Pendragon, no entanto acho que eu não farei justiça ao sistema sem joga-lo em campanha, de preferência seguindo o The Great Pendragon Campaign. Em muitos lugares foi indicado o The Shadow of Yesterday, uma variação do FATE voltada para fantasia medieval com um cenário bem peculiar junto, mas ele não me empolgou em uma lida superficial. No entanto, fiquei curioso com outros sistemas que usam o FATE, e agora estou dando uma lida no Legends of Anglerre. Vou acabar emendando a leitura com outros títulos do FATE, como o Spirit of the Century e/ou Dresden Files.

Três dos meus sistemas favoritos não são nem colocados na lista, pois são perfeitos para se jogar uma one-shot despretenciosa: Shotgun Diaries, 3:16 e Fiasco. O Microscope RPG também proporciona algumas horas de story-telling despretenciosas. Preciso ler também o Lady BlackbirdGeiger Counter, dois sistemas simples muito elogiados.

Com tantas opções, meu único medo é que minhas férias acabem antes que eu encontre um sistema para testar com o meu grupo. E vocês, já passaram por algo assim? Qual é o sistema perfeito para suas necessidades/preferências atuais?

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Visualizar Comentários (3)
  1. Excelente artigo meu amigo.Como você está em sua busca pelo “sistema que seja ideal para as suas necessidades”, vou aconselhar o MizaSystem, um sistema desenvolvido pelo grande dinossauro do RPG potiguar Mizael.Criação de personagens: 1. Diga sua profissão;2. Forneça duas qualidades (não necessariamente ligadas a sua profissão).Se numa determinada ação uma de suas “qualidades” for válida, você ganha bônus narrativo, que é usado para ter um sucesso na cena.Jogadas: Pedra / Papel / Tesoura!Precisa de mais alguma coisa? Use a ambientação que quiser :_

  2. Se você está de férias e quer jogar um rpg despretensioso e rápido, eu sugiro fortemente Shotgun Diaries! O tempo de preparação é zero: você só precisa imaginar uma cena inicial e deixar os jogadores e o Relógio Zumbi tomarem conta do resto.

  3. Eu sempre fui mais do tipo que se preocupa com o enredo e não com o sistema, contanto que o sistema não engesse os meus planos e/ou jogadores.Por esse motivo sempre me prendi no classico D&D , em todas as encarnações com excessão da quarta, e ao Storyteller como sistema generico pra aventuras onde os jogadores são pessoas comuns em alguma situação incomum. Ambos tem como mérito sua facilidade de regras. O jogador só precisa saber que deve lançar um d20 / d10 e tirar um número alto. Se o mestre domina o sistema o jogo flui sem que o player precise de conhecimento de regras mais complexas.Além disso, é claro, são os sistemas mais comuns, e portanto as chances dos seus jogadores já terem usado qualquer um deles é bem alta.

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