O que são sistemas d100?

Os sistemas d100 baseiam-se em jogadas percentuais e um sistema robusto de perícias como mecânicas principais. Os testes são feitos jogando-se 2d10 (mais comum) ou 1d100 (mais raro), gerando um número entre 01 (01%) e 00 (100%) e comparando-o ao valor da perícia. Caso o resultado obtido no dado seja menor (algumas vezes menor ou igual) ao nível dela, o teste é bem sucedido.

Esta premissa torna o sistema d100 bem intuitivo e de forma geral bem fácil de explicar e de aprender.

Os primórdios…

Experimentações com sistemas de RPGs baseados em dados percentuais começou com o Boot Hill (1975), um RPG de faroeste pouco focado na interpretação. Foram apresentados conceitos de ferimentos, locais de acerto e combates individualizados rápidos e mortais, mas sem um sistema de perícias que pudesse dar maior dimensão aos personagens. O título foi o segundo produzido pela TSR e tem como autores Brian Blume e Gary Gygax.

B. Dennis Sustare e Scott Robinson escreveram Bunnies & Burrows (1976), um jogo no qual os personagens são coelhos que precisam enfrentar desafios. Embora ainda não tenha um sistema de perícias robustas, neste jogo, as características do personagem (Força, Velocidade, Faro etc.) fornecem uma lista de perícias associadas. No combate, por exemplo, o jogador observa a sua característica Força e cruza com a defesa do adversário em uma tabela, que fornece quanto o atacante precisa obter (em valor percentual) para acertar o adversário.

Escrito por Edward E. Simbalist e Wilf K. Backhaus, Chivalry & Sorcery (1977) traz uma proposta mais próxima do wargame. Os atributos possuem modificadores absolutos e/ou relativos e o sistema de resolução se baseia matrizes condicionais, que mostram a chance de um determinado fato acontecer, dependendo das táticas empregadas pelo atacante e defensor.

While Jeffrey C. Dillow, insatisfeito com as regras de Dungeons & Dragons, desenvolveu o High Fantasy System (1978), com combates utilizando d100. O agressor comparava o resultado obtido com a esquiva do oponente, determinando se o golpe era bem sucedido ou não.

Capa do RuneQuest (2018)

A história do sistema d100 começa a mudar com o lançamento de RuneQuest (1978), um jogo escrito por Steve Perrin, Ray Turney, Steve Henderson e Warren James, ambientado no mundo mítico de Glorantha, desenvolvido por Greg Stafford.

RuneQuest foi apresentado ao público no jogo de tabuleiro White Bear and Red Moon (1975), mais tarde sendo renomeado Dragon Pass.

Quando Greg Stafford resolveu enxugar as regras para a segunda edição do RuneQuest, publicou apenas as regras como um livreto de 16 páginas batizado de Basic Role-Playing (1980). Ao longo do tempo, Sandy Petersen, Lynn Willis e Steve Henderson aprimoraram o sistema, que se diferenciou por ser o primeiro a trazer um sistema completo de perícias para os personagens.

O BRP passou então a ser um sistema genérico e modular, anterior inclusive ao GURPS (1986), com diversos cenários sendo lançados para o sistema, como já falamos aqui.

Os sistemas d100 no Brasil

O RPG no Brasil só começa oficialmente com o lançamento do Tagmar (1991), de autoria de Marcelo Rodrigues, Ygor Moraes Esteves da Silva, Júlio Augusto Cezar Junior e Leonardo Nahoum. Depois disso a Devir iniciou a tradução de alguns títulos no país.

Marcelo Del Debbio foi o responsável por introduzir o sistema d100 no Brasil com os RPGs Arkanun (1995) e Trevas (1995), este segundo distribuído na forma de revistas em bancas de todo o país. Isso popularizou o sistema e criou uma base de fãs que ainda hoje é atuante na comunidade rpgística.

Depois de um longo hiato, a Editora Terra Incógnita trouxe finalmente o RPG Chamado de Cthulhu 6E (2014). Quatro anos depois, a New Order Editora publica do Chamado de Cthulhu 7E (2018) e em seu rastro inúmeras aventuras e livros da linha, o que ajudou a ampliar a base de fãs.

Mythras Imperativo (2020), uma versão resumida das regras do sistema da The Design Mechanism, foi traduzido pela Macaco Dumal Hobbies. A empresa tentou trazer o sistema de regras completo por meio de financiamento coletivo, mas não chegou a ser bem sucedido.

A Macaco Dumal Hobbies, através de financiamento coletivo, trouxe em 2022 o Against the Dark Master, um jogo de RPG que se passa em um mundo de fantasia sombria, onde os jogadores assumem o papel de heróis que lutam contra as forças do mal representadas pelo Darkmaster. O jogo é fortemente inspirado em clássicos como O Senhor dos Anéis e O Hobbit.

Quando este artigo está sendo escrito, a Retropunk foi a última editora a se aventurar com sistemas d100, sendo bem sucedida no financiamento coletivo do Delta Green, com previsão de entrega dos livros para o primeiro trimestre de 2025.

Capa Delta Green: Agents Handbook (2016)

Nos próximos meses, a equipe do Dados Místicos pretende finalizar a tradução dos SRD do Classic Fantasy e do BRP. O primeiro traz uma perspectiva de fantasia medieval, enquanto o segundo pode ser utilizado para qualquer ambientação, com isso, abrindo mais possibilidades para o jogador brasileiro.

Conclusão

As primeiras experimentações com o sistema d100 começaram logo depois do lançamento do Dungeons & Dragons, sendo algumas delas função da frustração de jogadores com o D&D, que para alguns não era bom o suficiente para simular a realidade.

No Brasil ainda são poucos os títulos d100. O Sistema Daemon tem se mantido por publicações de fãs e as editoras maiores tem focado na temática do Chamado de Cthulhu.

O mercado brasileiro ainda tem espaço para títulos de peso, como o Mythras, RuneQuest e Warhammer.

E você? Já jogou sistemas d100? Tem um preferido?

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.