Este artigo reflete exclusivamente a minha visão pessoal (redundância detectada) sobre um discurso recorrente nas rodas rgpisticas, a de que “deveríamos apoiar mais as traduções e o RPG nacional”.
Esse discurso, a meu ver (e eu não explicitarei novamente que esta é a minha visão sobre o tema), tem seus pontos falhos, pois não considera inúmeros aspectos e particularidades de nossa sociedade.
Me considero um entusiasta do hobbie (estar escrevendo no blog e participar e organizar eventos são exemplos disso), e por isso mesmo leio diversos títulos e apresento-os no blog ou em eventos, de forma que potenciais jogadores possam se interessar pelo jogo e venham a juntar-se a grupos ou fundar novos.
Nosso país não tem uma tradição lúdica em RPGs e jogos de tabuleiro, o que dificulta e muito a introdução do hobbie no âmbito familiar, onde ele poderia ganhar mais força e adeptos. Some-se a isso o preconceito que durante muitos anos os jogadores de RPG sofreram e o machismo que ainda afasta as mulheres das mesas.
Também não temos o hábito da leitura, uma deficiência que atrapalha a prática de um jogo essencialmente dependente dela e não sabemos quantos jogadores de RPG temos no país. Em vista disso, resolvi fazer um exercício de extrapolação (para mais ou para menos) para tirar algumas conclusões.
Quando comecei a jogar RPG, a maior parte dos jogadores estavam no ensino médio ou no ensino superior e acredito que ainda seja assim hoje em dia, daí fiz algumas conjecturas para este experimento.
De acordo com a projeção da população brasileira, hoje o Brasil possui 205.400.000 habitantes. Segundo os resultados do censo escolar 2015, temos 6.870.246 estudantes no ensino médio (incluindo ensino especial, mas sem considera o EJA) e 7.526.681 (dados do censo 2013) no ensino superior, totalizando 14.396.927 estudantes.
Agora, vamos fazer uma extrapolação e dizer que 0,1% desses estudantes são jogadores de RPG. Ficaríamos com um número de 143.970 em todo o Brasil, que distribuídos de acordo com o percentual representativo de cada unidade da federação me daria o quadro seguinte:
Por essa extrapolação que faço, considero que o número de grupos é igual ao número de pessoas que efetivamente adquirem produtos de RPG, o que me dá um público de 14.440 pessoas. Um número bem pequeno se eu considerar que muitos desses estudantes não tem uma fonte de renda própria, mas, como disse desde o começo, esta é uma extrapolação.
Elenquei no catarse.me os projetos que a busca me retornou com a tag RPG e que foram financiados. O quadro abaixo apresenta estes projetos e o número de apoiadores:
Em um quadro muito positivo, considerando que cada projeto foi financiado por pessoas distintas (o que não foi), teríamos que quase 17% dos mestres ligados ao RPG no Brasil (em nossa análise hipotética) auxiliaram no financiamento dos títulos citados.
Agora vamos comparar o quadro acima, com o ranking dos rpgs mais jogados no Roll20 no ano de 2015.
Dos mais jogados em 2015, Call of Cthulhu, Fate e 13ª Era ganharam versão nacional (e coincidentemente possuem o maior numero de apoiadores), sendo apoiados (principalmente, acredito) por pessoas que já tinham conhecimento do sistema ou que já tinham os livros em inglês e para facilitar o acesso a informação nas mesas que poucos leem no idioma inglês.
As editoras estão, de forma corajosa, trazendo RPGs novos, com propostas diferenciadas e que embora tenham uma base de fãs no exterior, não é de conhecimento geral aqui no Brasil. São o nicho do nicho.
Por isso mesmo, alguns defendem que devemos apoiar todos os projetos que visem trazer para o nosso idioma mais opções de jogos, mas como poucos podem manter uma indústria, se precisamos levar em consideração os gostos pessoais de cada grupo?
A maioria das pessoas só vai comprar o que vai jogar e se a proposta não agrada ao grupo, se eles não tem interesse em experimentar o novo, eles não o farão, e com razão, pois aquele produto não é para eles. Eles não são o público-alvo. Aquele sistema/cenário não os agrada e nada além do prazer de jogar os fará gastar dinheiro em um produto que não lhes serve.
Quer fazer o seu produto ter sucesso? Arrasar na pré-venda? Ser o sucesso do financiamento coletivo? Apoie eventos. Faça um guia rápido e coloque pessoas para jogar. Faça vídeos. Espalhe a palavra. Faça as pessoas amarem o sistema/cenário e com certeza você terá um público maior para o seu produto.
Para o público em geral, ter um RPG no qual o mestre se sente confortável para narrar e os jogadores para jogar é o suficiente e muitos grupos não estão dispostos a experimentar coisas novas e isso não é necessariamente mal.
Todos queremos mais títulos em português (nacionais ou não), mas o produto precisa nos servir, de outra forma vai ficar na prateleira das lojas e o único culpado disso será a produtora do jogo, que não criou uma estratégia para que os jogadores se apaixonassem pelo seu produto.
Espero que os pensamentos desconexos não se traduzam nas palavras.
Bom artigo, apenas uma consideração, o Last RPG Fantasy é apenas uma história em quadrinhos rs… Pensava que era jogo de RPG, mas me enganei.
Nota-se também que produções independentes possuem recursos bastante limitados e inexperiência para promover o produto. Por consequência, as pessoas que produzem precisam de apoio da comunidade, das quais, às vezes, é rechaçada ou está aguardando a liberação do produto final.
Salve e muito obrigado pelo comentário Alan.
Como eu disse no artigo, coloquei apenas os títulos que apareceram na busca do catarse.me e que pareciam livros.