Não, não tem nada a ver com as montadoras de veículos. Tirando do dicionário:

Fiat: an authoritative decree, sanction, or order: a royal fiat. Synonyms: authorization, directive, ruling, mandate

Particularmente interessante é o seu sinônimo com ruling. Um dos motos do old school é justamente rulings, not rules, significando que o GM Fiat é mais importante que regras bem definidas no sistema.

Isso é uma questão completamente de opinião e preferência, mas como este é o meu blog, aí vai a minha: eu não gosto do GM Fiat. Talvez este tenha sido justamente meu problema com a OSR.

Os jogos que funcionam com base no GM Fiat são em geral os mais tradicionais, e por incrível que pareça isso não tem a ver com as quantidade de regras. Mesmo no D&D3.5, com suas toneladas de livros, ainda é dito que o DM é a autoridade final e inquestionável do jogo, da mesma forma do que no AD&D1E ou no B/X.

O que acontecia nestes jogos é que por terem um conjunto de regras mais enxutos, muitas situações caíam fora do que estava escrito no livro e a decisão do que iria acontecer no jogo ficava nas mãos do senhor de todas as regras, o DM. Em jogos mais robustos, a mesma situação vai estar descrita nos livros, e não vai ser necessário usar a pura autoridade do mestre para definir o que vai acontecer.

No entanto, curiosamente isso é visto como negativo. Muitas vezes, o GM acaba tendo que tomar decisões rápidas para definir o que vai acontecer no jogo. Um bom motivo para isso é para manter o ritmo do jogo, enquanto um motivo menos nobre seria para que o jogo vá na direção que ele quer (railroading). De qualquer forma, quando não existe nenhuma regra relacionada no livro a esta situação, a autoridade do GM não é questionada. Mas, se houvesse uma regra no livro e se esta decisão tomada pelo GM fosse contra as regras, abre espaço para discussão e questionamento pelos jogadores.

É justamente esta discussão e questionamento dos jogadores que é visto como algo negativo por boa parte dos RPGistas. Fomos ensinados que o GM é a grande autoridade, ele é Deus dentro do jogo, que ao fazer isso estamos atrapalhando o jogo dele. Por nenhum momento passa pela cabeça destas pessoas que:

  1. O jogo não é dele, e sim de todos os participantes. 
  2. Todos concordamos em jogar um jogo específico, que possui suas regras.

O que os jogos modernos tentam fazer é transformar esta mentalidade, tirar o GM do pedestal de autoridade máxima e transformá-lo em um primeiro entre iguais. Uma das consequências disto é que se torna comum e em alguns jogos até mesmo encorajado que os jogadores perguntem e contestem a aplicação das regras pelo GM. Uma heresia!

Quando o GM Fiat sai de jogo, a responsabilidade sai de uma pessoa e é distribuída por todo o grupo. Claro, isso pode ser bom ou ruim, dependendo do grupo. Mas em grupos de pessoas mais maduras e respeitosas, o resultado é bastante satisfatório.

O jogador reclamão, que interrompe o jogo para questionar uma regra, para tentar obter vantagem para o seu personagem? O famoso advogado de regras não é apenas uma simples consequência natural da quantidade de regras, e sim de um jogador que não se importa com a diversão dos outros, que desrespeita seus amigos e quebra o frágil contrato social do jogo. Algumas pessoas arrumaram um remédio para este tipo de jogador: diminuir as regras e aumentar o GM Fiat. A minha solução é mais simples porém mais efetiva e drástica: procurar outro jogador. Não sei porque no RPG se chega a conclusão que proibir chuteiras é a solução para evitar carrinhos, quando um cartão vermelho resolveria.

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Escrito por Pedro Leone
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