Sentei-me a mesa enquanto o mestre explicava como funcionava o sistema de criação de personagens.

Gastamos três horas para fazer a ficha de todos os personagens e para uma breve explicação de como funcionava as jogadas de perícias, atributos, e encenamos até algumas rodadas de combate. Quando terminamos, o mestre marcou a próxima sessão e pediu que lhe enviasse por e-mail o nosso background, baseado em uma ficha que ele nos enviaria no mesmo dia.

Quando cheguei em casa, bastante empolgado, abri a caixa de e-mails e vi que o mestre havia nos enviado um documento em word com cento perguntas, que variavam da data de nascimento do personagem, a que tipos de frutas ele gostava, passando pela preferência sexual do personagem.

Minha mente trabalhou ferrenhamente para responder todas aquelas perguntas, pois eu via ali uma oportunidade de criar uma grande e épica história. Demorei três dias para terminar de responder todas as perguntas, o que se transformou em um documento com 18 páginas.

No dia marcado nos reunimos, todos os jogadores com suas fichas e questionários respondidos (enviamos uma cópia ao mestre, mas deveríamos ficar com uma para consulta), tiramos os dados, colocamos sobre a mesa, sentamo-nos a mesa e o mestre começa…

Vocês estão reunidos em uma taverna quando…

Levantei-me, despedi-me de todos e sem entender o mestre pergunta o que aconteceu e eu, na maior naturalidade respondi:

Passei três dias respondendo um gigantesco questionário, gastando todos os meus neurônios para criar um personagem, em sua base épico, e você começa a história com o maior dos clichês?

Saí e nunca mais vi nenhum membro do grupo. Dizem que eles caíram, vítimas de um ataque kobold na primeira sessão de jogo, enquanto dormiam, sem ninguém vigiando o acampamento.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.