Sentei-me a mesa enquanto o mestre explicava como funcionava o sistema de criação de personagens.
Gastamos três horas para fazer a ficha de todos os personagens e para uma breve explicação de como funcionava as jogadas de perícias, atributos, e encenamos até algumas rodadas de combate. Quando terminamos, o mestre marcou a próxima sessão e pediu que lhe enviasse por e-mail o nosso background, baseado em uma ficha que ele nos enviaria no mesmo dia.
Quando cheguei em casa, bastante empolgado, abri a caixa de e-mails e vi que o mestre havia nos enviado um documento em word com cento perguntas, que variavam da data de nascimento do personagem, a que tipos de frutas ele gostava, passando pela preferência sexual do personagem.
Minha mente trabalhou ferrenhamente para responder todas aquelas perguntas, pois eu via ali uma oportunidade de criar uma grande e épica história. Demorei três dias para terminar de responder todas as perguntas, o que se transformou em um documento com 18 páginas.
No dia marcado nos reunimos, todos os jogadores com suas fichas e questionários respondidos (enviamos uma cópia ao mestre, mas deveríamos ficar com uma para consulta), tiramos os dados, colocamos sobre a mesa, sentamo-nos a mesa e o mestre começa…
Vocês estão reunidos em uma taverna quando…
Levantei-me, despedi-me de todos e sem entender o mestre pergunta o que aconteceu e eu, na maior naturalidade respondi:
Passei três dias respondendo um gigantesco questionário, gastando todos os meus neurônios para criar um personagem, em sua base épico, e você começa a história com o maior dos clichês?
Saí e nunca mais vi nenhum membro do grupo. Dizem que eles caíram, vítimas de um ataque kobold na primeira sessão de jogo, enquanto dormiam, sem ninguém vigiando o acampamento.
Hahahaha, aconteceu com você?Eu to fora desses backgrounds gigantescos. O bom do BW é que você já sabe tudo que precisa do personagem diretamente da ficha, com os beliefs, traits, instincts e tudo mais. Não precisa de questionário nem nada 🙂
Já passei por isso, também. Como jogador, me frustrei com a situação e o jogo desandou; como Narrador, não caio mais nesse “plot” e faço cada um ter asua origem (mesmo que não tenha escrito uma).
Eu aboli esses questionários e backgrounds complexos dos RPGs que eu jogo, primeiro que ninguém se lembra, segundo que dificilmente ajudam a criar uma história melhor, terceiro que só têm relevância se aparecer no meio do jogo, o que muitas vezes não ocorre, por último, levam muito tempo.Me lembro até hoje uma das primeira vez que minha namorada jogo RPG, na época ainda pedíamos para cada um fazer sua história. Chega minha namorada com 4 páginas de história que ajudavam em quase nada, dava preguiça até de ler.Pense bem, de que adianta colocar sua altura na ficha, cor dos olhos e outras coisinhas que não interferem nem na narrativa nem na mecânica.Eu ainda quero um sistema que eu possa criar a ficha dinamicamente durante a sessão de RPG, e não precise desperdiçar tempo fazendo a ficha.
Dá para fazer isso no FATE, o próprio Espírito do Século traz regras para isso!
Boa Frank, por isso que hoje, se um jogador me chega com 4 páginas de prelúdio, eu peço pra sintetizar. Depois se quiser aprofundar escreva contos, mas precisamos de personagens que possam se resumir rapidamente (o que não significa que tenham que ser rasos, mas dá pra fazer um bom personagem sem escrever um livro).