Continuando com a série de Falácias sobre RPG, dessa vez alterando o título. Escolhi a palavra “falácia” erroneamente. O mais correto seria Mitos, idéias e tabus tão enraizados no nosso hobbie mas que não são verdadeiros – ao menos não 100% do tempo – quando analisados com mais cuidado.

Então, mesmo que você pense dessa forma, saiba que o horizonte é mais longe e o seu pensamento não é a única forma correta.

Mito da Física – As regras do RPG servem para simular a física do cenário.

Em alguns jogos isso é certamente verdade, e não tem nenhum problema. O mito é que muita gente acredita que as regras do RPG servem apenas para isso. O design do RPG já evoluiu muito desde que isso era 100% verdade – basta jogar Fiasco ou Espírito do Século para perceber que estamos em outra época.

Mito da Ausência dos Dados – Uma sessão onde não foi rolado nenhum dado é o melhor tipo de sessão.

Eu vivo lendo isso em tudo quanto é lugar. “Rolei uma sessão de D&D e todo mundo interpretou bastante, não chegamos a rolar nenhum dado!”. Bem, sinto avisá-lo mas provavelmente as regras que você está utilizando não estão servindo para o estilo de jogo que você está utilizando.

Quando você utiliza regras apropriadas, regras que causam efeitos interessantes e empolgantes na ficção do jogo, rolar os dados é o momento de incerteza, de improviso e jogo de cintura da parte de todos os envolvidos. Com boas regras, rolar os dados é emocionante e divertido.

Isso não significa que quem prefere não rolar dados e ficar apenas no freeform está errado, mas levantar a bandera disso como o jogo ideal para todos é sim um grande mito do RPG, que até mesmo eu acreditei por muito tempo.

Uma explicação para este tipo de comportamento dada pelo Vincent Baker é que os primeiros RPGs tinham regras para simular as batalhas de wargames, que são a raíz dos primeiros RPGs. Tudo estava indo bem, mas as pessoas começaram a reparar que você pode ir muito além de simular batalhas individuais – inclusive, poderiam jogar sem uma única batalha e ainda assim se divertir! Mas ao olhar para o livro de regras com todo esse conjunto novo de situações e estilo de jogo, não existia nenhuma regra para apoiar. Eles continuaram mesmo assim, adotando o freeform para estas situações, e com o tempo as regras foram ganhando este estigma de serem ruins, de atrapalharem e limitarem o jogo.  Não sei se é completamente verdade, mas certamente é interessante.

Mito da Interpretação – As regras atrapalham a interpretação.

Mais uma que você ouve o tempo todo em fóruns de discussão pela internet. Esta idéia tem bastante paralelo com o item anterior – algumas pessoas associam o freeform social com completa ausência de regras, o que não é absolutamente verdade. Vocês ainda estão seguindo regras, mas elas são sociais e informais, ao invés de codificadas em um livro.

Como eu já disse acima, regras relevantes e apropriadas aumentam a experiência do jogo, inclusive criando situações de interpretação que não existiriam sem estas regras. Costumo citar como exemplo os flashbacks do 3:16 como uma regra que cria situações de roleplay e profundidade de personagem que simplesmente não existiria sem ela.

Algumas pessoas ainda dizem que “regras que tentam forçar meu personagem a interpretar, agir ou dizer algo de certa maneira são ruins“. Eu consigo entender a questão da preferência, de gosto, mas esta explicação é completamente sem nexo. Você já utiliza os dados e as regras para dizer como seu personagem age de forma física durante o jogo. Ou por acaso vocês interpretam as batalhas com espadas de espuma na sala? Estender isso para a parte social é apenas uma extensão disso.

Fiquem a vontade para deixar suas opiniões, mas como eu disse nos comentários da primeira parte…

Eu escrevi mais ou menos assim:

“Dizer que X é um fato é falso.”

Eu não disse isso:

“X é falso, então obviamente o contrário de X é verdadeiro”.

Eu ainda estou tentando entender de onde as pessoas tiraram essa conclusão.

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Escrito por Pedro Leone
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