RPGs são uma forma de entretenimento mais antiga do que os video-games. Nós já brincamos de faz-de-conta desde o início da civilização, mas foi apenas 1974 que dois caras chamados Gary Gygax e Dave Arneson criaram o que seria o início de um novo hobbie e entretenimento, através de um conjunto de pequenos livretos chamado Dungeons & Dragons.
Bang! Eu sou a polícia e atirei em você, você morreu! Quantas vezes você não bricou disso quando era criança, se imaginando vestido de policial, correndo atrás de bandidos por campos incendiados e chuvas de meteoro que não passavam do quintal da sua casa?
O que ele tem de tão interessante é que, ao contrário de outras formas de diversão, toda a graça do RPG se passa dentro da imaginação dos seus participantes através de algo que está sendo criado na hora! O que nós fazemos, quando estamos geralmente sentados ao redor de uma mesa, com folhas de papel rabiscadas, pedaços de plástico coloridos numerados, lápis, borrachas, refrigerantes e salgadinhos, é criando uma história, coletivamente. Uma história de heróis, de aventura de fantasia, de drama, de horror, de comédia: não importa o gênero. O que é realmente importante é que ao invés de simplesmente assistir ou ler uma história, quem está ali está criando a história, a cada momento de jogo.
Imagine que, ao invés de você mesmo, você é um cavaleiro na idade medieval. Ao seu redor, outros cavaleiros estão alinhados e se agaixando, em respeito ao Rei Artur em pessoa! Ele vai até você, lhe cumprimenta respeitosamente e diz, em voz baixa: “Eu tenho uma missão para você.“
Em um RPG tradicional existem dois papéis. A maior parte das pessoas que está jogando o RPG possui apenas um personagem, e é responsabilidade de cada um descrever o que aquele personagem está fazendo, e muitas vezes sentindo, na história. Eles devem descrever como estão interagindo com a história, e através dessa conversa a imaginação das pessoas cria as cenas, exatamente da mesma forma que você imagina uma cena ao ler um bom livro.
Mas nem todos os jogadores tem este papel: existe um jogador diferente, que tem outras responsabilidades. Para diferenciá-lo, os jogos criam diferentes termos para ele. Os mais comuns são Mestre do Jogo ou Narrador. O papel dele é descrever o ambiente e agir com o papel de todos os personagens da história que não são os protagonistas que os outros jogadores estão descrevendo. Quando o personagem de um jogador entra em uma igreja e vai falar com o padre, é o Mestre do Jogo que tradicionalmente descreve como é a igreja, o que o personagem vê, sente, escuta e cheira quando entra no lugar, e também faz o papel do padre.
O narrador diz para você: “A casa começa a pegar fogo, e você ouve choro de crianças dentro do lugar! O calor está quase insuportável, e as cinzas grudam no seu elmo.” Você decide que precisa ajudar as pobres crianças, mesmo estando em uma enorme e pesada armadura. “Eu vou descer do cavalo, e ir correndo até a casa! A porta está aberta?“
Mas é claro que não é tão simples assim. Afinal de contas, o que diferencia o RPG de um faz-de-conta que as crianças fazem o tempo inteiro? A resposta para isso está em um conjunto de regras, chamada de “sistema”. E quais são essas regras?
Imagine que um dos jogadores diga que seu personagem está fazendo algo bastante simples. “Eu abro a porta” é algo bastante óbvio, ninguem iria discordar. Mas e se a porta estiver trancada? “Eu arrombo a porta com chutes” pode dizer o jogador. Mas será que o personagem dele iria conseguir? Se fosse uma porta de madeira simples, talvez. Se o personagem fosse forte, grandalhão, iria facilitar. Por outro lado, se a porta fosse de metal e reforçada, isso iria dificultar bastante.
Este tipo de situação é lidado pelas regras que estão contidas dentro do “sistema”. Pense no sistema como uma caixa preta, como um computador ou mesmo uma função matemática. Em uma parte dele entra a situação inicial, o momento que está causando a dúvida no jogo, e do outro lado da caixa sai o resultado: se ele conseguiu ou não abrir a porta.
Existe uma infinidade de sistemas diferentes, que em geral são feitos para se contar um certo tipo de história. Enquanto em um jogo medieval é importante saber como cavalgar e utilizar uma espada, em um jogo de ficção científica existem regras para se pilotar espaçonaves e agir em gravidade zero. A maior parte dos sistemas utiliza dados de alguma forma para decidir o resultado das ações, mas também existem sistemas que utilizam cartas, fichas de poker, cara ou coroa, e uma infinidade de outras coisas.
Espero que isso tenha servido para que você tenha uma noção melhor do que aquelas pessoas estão fazendo conversando alto, jogando dados e com pilhas de livros ao lado. Ao contrário de outros jogos, em um RPG você não ganha sendo melhor do que seus adversários. Se existe alguma maneira de “ganhar”, é se divertindo o máximo possível e criando uma história interessante e engajante para todos os jogadores e que, assim como um bom livro ou filme, seja lembrada por muito tempo. E como se isso não bastasse, o RPG também estimula a criatividade, o trabalho em grupo, e estimula a leitura. E se você ficou com vontade de começar a jogar RPG e não sabe por onde, em breve irei publicar um texto explicando o “caminho das pedras”.
Definir RPG para mim é como tentar explicar um verbete no dicionário, por mais que tentemos, as vezes é quase impossível fazê-lo sem desenhá-lo.Apesar da dificuldade, curti muito o texto e vou apresentá-lo para não rpgistas e ver o que eles dizem. 🙂
Muito boa a explicação, agora entendi…^^
Já foi devidamente encaminhado pra minha avó, e postado no facebook. Isso merece ser espalhado, e LOUCAMENTE. ^^.
Cara adorei o texto muito bom mesmo! Parabéns! Simples, direto e certeiro.
Muito obrigado, Mallien! Valeu mesmo!
Muito obrigado, Franciolli!
YEY 😀
Ótimo texto, manolo. Bem simples e explicativo. Engraçado lembrar que foi vc quem me mostrou essa forma de diversão, muitos anos atrás. Muito obrigado por isso.
Valeu mesmo, manolo! 😀
Muito bom!!!!Irei usar o seu texto quando me perguntarem o que é o RPG.Meus parabéns!!!
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RPG é um jogo que ajuda a contar histórias com personagens em primeira pessoa. Em terceira pessoa são Jogos Narrativos, como Fiasco, não RPG.