Para o artigo desta semana, havia pensado em fazer uma conversão do personagem Adão, Senhor Sombrio de Ravenloft para a quinta edição, mas percebi que não valeria o esforço, pois o que eu faria não seria uma conversão, mas um ou dois ajustes.
Pensei então em falar sobre “o sistema não importa”, mas aí percebi que isso só levaria a discussões desnecessárias e então me lembrei de um artigo que escrevi um tempo atrás e que repostei no Diário de Campanha sobre os Valpurgeist, criaturas típicas de Ravenloft e que me inspirou para este artigo.
Infelizmente eu não conheço como funciona a dinâmica de jogo das mesas de D&D pelo Brasil afora. Não sei se os jogadores estão mais concentrados em aventuras comerciais ou se estão narrando suas próprias aventuras, em seus próprios mundos, mas com a dinâmica das aventuras comerciais – focadas principalmente em combate.
Quando costumo narrar, gosto de explorar diversos aspectos do jogo, principalmente aqueles que não dizem muito respeito ao combate.
Combates são divertidos, mas existem outras formas de conflito que devem ser exploradas.
Quem teve acesso ao livro Volo’s Guide to Monsters viu o tratamento que alguns monstros ganharam em suas páginas. Em seu primeiro capítulo, o livro detalha nove espécies de monstros, dos abomináveis beholders aos terríveis yuan-ti, dedicando em média onze páginas para cada um deles, um prato cheio para o desenvolvimento de campanhas inteiras baseadas em apenas uma dessas criaturas.
Bem, mas não é necessário que tenhamos um Volo’s Guide, com cada monstro detalhado a um nível enciclopédico, para criar uma campanha – ou mini campanha – baseada em uma criatura.
Me lembro que na época que eu ainda jogava o D&D 3.0, comprei uma revista em um evento (ela se perdeu no tempo) na qual havia um conto. Este conto, escrito em umas seis páginas, falava sobre uma estranha febre que afligia alguns moradores de uma pequena vila e que estava sendo causada (involuntariamente) por um morto-vivo que rodeava a área.
Na época que li o conto, a campanha já estava bem avançada e os personagens encontravam-se no 10º nível, mas achei legal a premissa do conto e acabei levando-os a esta vila, onde um dos personagens acabou contraindo a febre e os demais personagens tiveram que investigar a causa daquela moléstia.
Acabaram descobrindo que o morto-vivo não era maligno, rodeava a vila, pois tinha assuntos inacabados, querendo proteger sua filha, a primeira a cair doente com a sua presença, mas é claro que ela (o morto-vivo) não entendia isso e os personagens tiveram de convencê-la a partir ao invés de força-la a partir.
Esta foi uma daquelas aventuras memoráveis, que durou umas três sessões (uma mini-campanha?) baseada em uma criatura e onde nenhuma habilidade de combate dos personagens foi utilizada.
No caso do anteriormente mencionado Valpurgeist, eu vejo uma imensa possibilidade de trabalhar uma mini-campanha para personagens iniciantes, e as possibilidades são muitas.
Os personagens testemunham um enforcamento na cidade. Quando o cadafalso é puxado, agonizando, o homem continua gritando e professando a sua inocência, seus gritos só cessam quando o carrasco se pendura em suas pernas e aqueles mais próximos ouvem o som de seu pescoço quebrando.
Presentes no enforcamento estão os acusadores, o juiz e membros da família do condenado, que imploravam por misericórdia, alegando também a inocência do acusado.
Os personagens podem ser procurados por alguém da família para tentar provar a inocência do falecido ou podem ouvir rumores, alguns dias depois, de que alguns dos acusadores morreram por estrangulamento e acabam sendo contratados por outros acusadores para investigar e protegê-los.
No final, os personagens descobrem que o falecido levantou-se do túmulo como um valpurgeist e quer vingança. Lutar contra a criatura não vai adiantar muito, pois ele tem a terrível habilidade de retornar do túmulo (os personagens não sabem disso). É preciso provar a sua inocência e levar os verdadeiros culpados à justiça para evitar mais mortes.
Procura-se aventureiros audazes capazes de lidar com um formigueiro.
As formigas são excelentes amigas para quem trabalha na mineração. Ao cavar os seus formigueiros, elas acabam trazendo para a superfície o lixo que não lhes interessa e isso inclui amostras de minérios que despertam a cobiça do ser humano.
Os personagens são chamados à aventura para por um fim a um formigueiro e liberar a passagem para a atividade da mineração. O problema é que entrar em um formigueiro requer mais do que algumas espadas, afinal, o número de formiguinhas podem rapidamente sobrepujar o número de aventureiros e números são importantes.
Entrar, matar a rainha e sair. Em pouco tempo o formigueiro será destruído. Ou não?
Cada monstro é um mundo
Cada monstro presente nos manuais dos monstros, qualquer sistema e edição, podem e devem ser revisitados para gerar ideias bacanas para as suas aventuras. Explore-os muito além de um combate, todos tem potencial para transformarem-se em mini-campanhas ou pequenas missões secundárias.
Alguns encontros com zumbis podem ser mais memoráveis do que uma batalha com um dragão, tudo dependerá da forma como isso for feito.
Espero que o artigo possa ser útil e se desejarem, podem deixar comentários que fico a disposição de pensarmos em algumas tramas interessantes envolvendo qualquer monstro de qualquer sistema e edição.
Até o próximo artigo.
Adoro a forma como The Witcher trata disso. Lá, podemos ver como monstros podem afetar o cotidiano de uma comunidade. Quanto mais poderoso o monstro, maior é sua área de influência. Adicione detalhes da ecologia do monstro, e alguns comolicadoresb e temos muito pano pra manga.
Excelente artigo….
Gostei do conto que me relembra uma aventura que havia jogado em Mythras.
Mestre, você mencionou sobre Dragão, pode trazer alguma ideia de combate sobre essas criaturas e como você trás essas criaturas para suas aventura e qual a sua visão dela em uma aventura…
PS.: Vou reciclar essa estória sobre o homem enforcado.
Essa do valpurgeist é muito The Witcher / Supernatural. Dois exemplos, aliás, de franquias que exploram demais esse tipo de história. Eu gosto bastante de usar aventuras assim, especialmente porque sempre bota na cabeça da turma aquele lance de “quem é o verdadeiro monstro”.
Salve, salve Dan Ramos.
Eu adoro essa pegada. Embora existam campanhas que queremos exclusivamente explorar, pilhar e destruir, temos que considerar algumas aventuras assim, afinal, somos mais monstros do que os monstros que criamos.