Elas estão um pouco sumidas das edições mais recentes de Dungeons & Dragons, mas já desempenharam um papel importante em edições anteriores.

As referências às Guildas de Ladrões são encontradas esparsamente no Player’s Handbook e algumas poucas referências no Dungeon Masters Guide da 5ª edição, mas definitivamente, quase nada é dito sobre elas.

No artigo de hoje vamos falar um pouco sobre as guildas de ladrões e como elas se encaixam em um cenário medieval.


[blogoma_blockquote]As guildas de ladrões são associações de pessoas que fazem do roubo o seu meio de vida.[/blogoma_blockquote]

Nem todos os membros de uma guilda de ladrões são assassinos que fazem uso de suas habilidades mais nefastas e nem todo roubo envolve necessariamente bens materiais.

Os benefícios

Ser parte de uma guilda de ladrões proporciona os mesmos benefícios básicos de qualquer guilda: segurança, treino e artes do ofício, o que significa que seus membros recebem treinamento e ferramentas especializadas do ofício, que não estão disponíveis em lojas comuns.

Se um membro da guilda se envolve em algum problema legal, a guilda pode puxar algumas cordas, especialmente se existir um retorno financeiro ou troca de favores. As guildas de ladrões congregam indivíduos com as mesmas opiniões, que fazem alianças, planejam trabalhos, e obtêm informações sobre prédios, pessoas e medidas de segurança.

Sala de treinamento para os membros da guilda.

Outro benefício de tornar-se membro de uma guilda de ladrões, além de não ter as duas pernas quebradas, é poder participar de um tipo mais sofisticado de roubo: o ramo da segurança.

Os serviços

Indivíduos pagam a guilda para que eles, suas casas e seus prédios não sejam roubados, mas isso só funciona com a implícita cooperação dos membros da guilda. Se o líder da guilda disser “não roubem este local”, ele realmente quer dizer “não roubem este local”.

As guildas também constroem redes de espiões, informantes, oficiais subornados e conexões mágicas que podem ser utilizadas por outros membros da guilda, além de também lidarem com contrabando de mercadorias, tanto para lucro direto quanto através da receptação. Os oficiais podem pegar um ou dois ladrões, mas a operação continua.

Manter uma tênue margem de honra entre os ladrões é complicado, razão pela qual as mais bem sucedidas guildas de ladrões são leais.

Força política

No intuito de manter uma guilda de ladrões coesa, a guilda precisa ser forte e suficientemente poderosa para policiar seus membros e os ladrões independentes que passam pelo território da guilda. Quando um mercador paga por proteção, a reputação da guilda está por um fio. Quem quer uma guilda de ladrões na qual não se possa confiar? Guildas com autoridade suficiente, dividem territórios entre várias facções dentro da própria guilda para ajudar a manter a paz e recompensa membros que se destaquem.

A guilda, por exemplo, decide se os Salteadores Vermelhos e os Tigres Negros terão direito sobre as apostas ou prostituição no distrito das docas, enquanto a punga e a mendicância na Rua dos Padeiros vai para os Invisíveis. Essa distribuição de território também leva a disputas internas que os administradores da guilda usam em benefício próprio.

As leis

A leis em um cenário medieval mágico difere de nossas leis modernas. As leis são codificações de costumes sociais.

Grandes cidades possuem pessoas vindas de diferentes locais e as leis se tornam guias para uma coexistência mais fácil. Algumas vezes as leis são executadas através de punições fiscais ou físicas; outras vezes as leis são formalidades ignoradas devido necessidades sociais. Apenas aqueles com poder pode forçar os outros a respeitar as leis, sejam elas as leis das guildas, leis cívicas, leis senhoriais ou leis reais.

[blogoma_blockquote]As leis não necessariamente funcionam como elementos dissuasores de certos comportamentos, nem os seus transgressores sempre são punidos.[/blogoma_blockquote]

Os ladrões prosperam com atividades ilegais e aquelas que não são ilegais per se, são provavelmente imorais. Isso inclui punga, roubo, furto, contrabando, arrombamento, aposta e outras atividades ilícitas.

A despeito de seus diferentes objetivos, os ladrões e suas guildas coexistem em uma sociedade mágica medieval com suas leis e a menos que toda a sociedade e seus líderes tenham crenças bondosas, guildas de ladrões provavelmente existirão nas cidades, desde que exista riqueza circulante para que os ladrões possam ter uma vida decente.

Coexistência

A primeira explicação para a existência de guildas de ladrões em sociedades urbanas é o acordo social implícito entre os ladrões e suas vítimas. As pessoas esperam pela criminalidade, (os crimes em cidades mágicas medievais não são normalmente violentos, quase sempre alguma forma de furto) e eles tolerem um certo nível de criminalidade.

O nível de tolerância muda de acordo com a tendência da população, do regente, dos centros de poder cívicos e do nível de riqueza da cidade. Enquanto os ladrões operarem próximo ou no limite tolerável, pouca atenção será dada a sua organização. Agora, se a guilda de ladrões pegar um trabalho na igreja da divindade patrona, roubando uma das relíquias ou conduzam um grande assalto contra um mercador influente, pode haver problemas e muitos deles.

[blogoma_blockquote]As conexões e alianças forjadas com outras guildas e facções da cidade são outra razão para a manutenção da guilda de ladrões.[/blogoma_blockquote]

As guildas podem subornar um número suficiente de oficiais civis para manter a guilda nos negócios, e muitos membros ricos da sociedade tem moedas em quantidade suficiente para mantê-los protegidos. Mesmo com a ajuda de magia, é mais fácil coexistir com ela do que simplesmente iniciar uma cruzada para extirpá-la completamente, especialmente considerando que aqueles que criam as regras dentro da cidade podem proteger-se de roubos mais facilmente se aceitarem a guilda e não lutarem contra ela.

Talvez, o líder da guilda de ladrões também sirva como um pilar cívico para aqueles que precisem de uma solução discreta, ainda que ligeiramente ilegal para alguns problemas. Em ambientes mais hostis, a guilda dos ladrões normalmente possui conexões mais próximas com a guilda dos magos, ganhando magias de disfarce em troca de favores ladinos.

A variedade de leis em uma cidade, também colabora para a existência de uma guilda. Determinadas ações podem ser ilegais em uma corte e legais em outra. Ladrões astutos descobrem rapidamente estes pontos de divergências e os exploram. Leis marítimas, de contratos e de direito reais em particular, normalmente entram em conflitos lucrativos.

Como outras sociedades secretas, a magia ameaça o sigilo das guildas de ladrões. Se alguém deseja livrar-se da guilda de ladrões local ou simplesmente encontrar quem está no comando, eles podem empregar um conjurador com algumas magias estratégicas. Qualquer um que saiba algo sobre a guilda, se torna uma fonte de vazamento de informações em potencial, seja através de encantamentos, força, suborno ou adivinhação.

Muitas das magias ou divinações necessárias para obter essas informações são de alto nível, mas usar magias de baixo nível podem acentuar a força e ameaçar a preciosa confidencialidade da guilda.

Empregar uma estrutura de célula é um método não mágico de evitar a espionagem mágica. Uma estrutura de célula é onde o ladrão se reporta a apenas uma pessoa acima dela e a pessoa que recebe as informações de vários ladrões abaixo dele, reporta-se a apenas uma pessoa acima dele. Reduzindo o número de conexões, a guilda minimiza a exposição e imita o ambiente medieval feudal com o sigilo ladino.

A alternativa mais simples para a guilda é tentar não irritar ninguém muito importante, e se tiverem que fazer, devem fazer amigos poderosos e influentes primeiro.

No próximo artigo sobre as guildas, vou trazer um exemplo de guilda de ladrões, criada a partir das regras apresentadas no Dungeon Masters Guide para Facções e Organizações, com seu mote, crenças e formas de avançar em sua hierarquia.

Até a próxima.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.