Sábado a noite seria dia de RPG, mas um jogador traíra informa que não poderá ir, pois terá um compromisso até tarde. Antes de receber esta notícia, sou convidado pelo amigo Tendson a testar alguns novos jogos em sua casa e sou informado que este jogador traíra iria comparecer a sessão de boardgames desfalcando a sessão de RPG.

Dessa forma, apenas um jogador deveria comparecer novamente e sessão e então o fiquei esperando chegar para partirmos juntos, com minha esposa e meu pequeno Pedro Arthur, para a casa do Tendson, experimentar uma noite lúdica em família.

Quando lá chegamos, encontrei o jogador traíra e seu irmão, que mora em Brasília e veio de férias. Eu tinha um objetivo naquela noite, impedir que o traíra se safasse. Eu poderia não ganhar, mas ele perderia de forma vergonhosa!

Havia mais ou menos um mês desde que os mortos começaram a voltar, mas pareciam séculos. A princípio, isso não nos afetou muito. Trabalhamos no controle da epidemia. Um antídoto foi até desenvolvido. Mas nunca havia o suficiente dele por aí. E sempre haviam mais mortes. O sangue de nossa cidade foi completamente drenado. Saqueadores andavam a solta. Reunimos tudo que pudesse ser usada como armas. Colocamos o ancião da cidade na caixa d’água, observando com binóculos e esperamos, prontos para a luta.

Mas nunca poderíamos ter imaginado isso… Uma noite, à meia-noite, vimos os primeiros zumbis aproximarem-se… Haviam tantos que não pudemos contá-los. O delegado viu a grande maré de mortos-vivos aproximando-se. Ele imediatamente pediu socorro, mas ela demoraria quatro horas para chegar. Nós teríamos que aguentar… No pânico que se seguiu, a ambulância e o caminhão de suprimentos colidiram. Lutamos pelas últimas armas na cidade. Mas ao invés disso, deveríamos ter dividido os antídotos.

Agora, estamos todos barricados e estamos com medo! Quando olhei meus companheiros, os olhares de relance, a forma como seguramos nossas armas, me pergunto se o maior perigo não está aqui dentro!

O jogo que estava a mesa, já montado, era o City of Horror, jogo para 3 a 6 jogadores da Repos Production, que na breve introdução, foi dito tratar-se de um jogo com elementos colaborativos e com muita intriga.

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Em City of Horror, jogamos com um grupo de humanos diante de uma invasão zumbi – bem parecido com o as hordas que assolam de vez em quando os amigos de The Walking Dead. A luta contra os mortos-vivos é importante, mas sobreviver é vital. Para vencer, você terá que fazer alianças, mas também trair seus companheiros.

Aliança e traição são elementos muito interessantes em boardgames.

O jogo é jogado em quatro turnos, cada turno representando uma hora antes da chegada do helicóptero, e todos os turnos seguem a mesma sequencia: os zumbis entram na cidade; os jogadores movem os seus personagens; cada local é resolvido (poderes e ataques).

No final, o personagem com mais pontos de vitória – concedidos pelos personagens, comida ou antídotos – ganhará o jogo. Mas para entrar no helicóptero, o personagem sobrevivente precisará ter sido vacinado!

O Jogo

Uma partida de City of Horror se desenvolve em quatro turnos, representando as quatro horas até a chegada do resgate e cada turno possui seis fases.

the little girlPersonagens

Dependendo do número de jogadores, cada jogador por controlar entre 3 e 5 personagens, escolhidos aleatoriamente. Cada personagem possui uma característica associada e uma quantidade de pontos de vitória, que serão concedidos ao jogador caso o personagem sobreviva. Caso o jogador utilize a característica associada do personagem, ele fica exaurido, e a menos que consiga recuperar-se de alguma forma, concederá uma quantidade menor de pontos de vitória caso consiga ser resgatado.

Cartas de Ação

Também dependendo do número de jogadores, são distribuídos números variáveis de cartas de ação, que variam de 4 a 7. As cartas de ação são elementos muito importantes, valem negociação em determinados momentos – motivo para traições e alianças e só podem ser conseguidas em uma das localidades. Se ver sem cartas de ação é torcer unicamente para a sorte.

Os Zumbis

Logo no início do jogo são colocados zumbis em algumas localidades, de acordo com a carta de hora 00:00h e a cada novo turno uma nova leva de zumbis chega em determinados locais e/ou são transferidos de um ponto para o outro.

As localidades

O tabuleiro apresenta seis localidades: a caixa d’água; a igreja; o hospital; a loja de armas; o banco; a encruzilhada – ou o meio da rua. Com exceção da encruzilhada, cada localidade tem um poder associado que permite que os personagens, por exemplo, recuperem-se da exaustão, podendo usar novamente suas características associadas, ou recebam uma vacina, isso sempre ao custo de uma carta de ação.

Cada localidade apresenta uma quantidade de espaço dentro da construção reservada aos personagens jogadores, mas bem limitada e espaços no lado exterior destinados aos zumbis, e comportam até 8 zumbis por vez. Quando o número de zumbis exceder um limite estipulado na localidade, um dos personagens lá dentro será devorado, o que ocorre normalmente através de uma “votação”.

city-of-horror-board-contentsNa encruzilhada, um zumbi líder vai matar alguém, SEMPRE, e se existirem outros zumbis na área, possivelmente o número de mortos será ainda maior e novamente, algumas dessas mortes podem ser evitadas por “votação”, incorporando nesses momentos um jogo de alianças e traições que tornam o jogo tão intrigante.

Na encruzilhada também ficar diversos potes de alimento, que caíram do caminhão de provisões. Os potes de alimento representam pontos de vitória e ficam com a face para baixo. Um jogador pode usar sua ação para pegar um destes potes de alimentos, e só quando o estiver em mãos é que saberá quantos pontos de vitória foram conquistados.

As fases do jogo

1. Obs
ervação / Caixa d’água

Os personagens que estiverem na caixa d’agua podem utilizar o poder especial da construção, que é olhar a carta referente a próxima hora. Isso permite que eles possam traçar estratégias, decidindo quais locais receberão o influxo de zumbis e onde aparecerão cartas de ação e vacinas.

Ter um personagem na caixa d’água é sempre uma boa opção, mas não indispensável.

2. Seleção das cartas de movimento

Cada jogador selecionará uma carta de movimento, que diz para onde o seu personagem irá em segredo. Ele coloca a carta virada para baixo sobre o seu personagem e aguarda até que todos tenham feito o mesmo.

3. Invasão

Na hora da invasão, a carta de invasão é revelada, os zumbis são posicionados e os suprimentos (cartas de ação/vacinas) são colocados no local indicado no tabuleiro.

4. Movimentação dos personagens

Na ordem da iniciativa, cada jogador move seus personagens para o local escolhido na fase 2, mas caso a localidade já esteja cheia, o personagem irá parar na encruzilhada.

5. Resolução da localidade

a. Ativação da localidade

O jogador que tenha pelo menos um personagem na localidade, pode ativar o poder do local. No entanto, cada jogador só pode ativar o poder do local uma única vez, mesmo que tenha vários personagens no local.

b. Ataque zumbi

Nesta fase qualquer jogador, mesmo os que não estejam na localidade, podem usar suas cartas de ação para matar zumbis – ou ativar algumas habilidades especiais, como deslocá-los para uma outra localidade.

Quando ninguém mais utilizar cartas de ação, observa-se as condições para que o ataque seja feito e se ele ainda se aplicar, os jogadores presentes no local, decidirão, através de uma votação qual personagem morrerá. Para cada personagem que um jogador tenha no local, ele tem direito a um voto. Caso haja um empate, quem decide o personagem que morre será o jogador com o marcador de primeiro jogador.

c. Compartilhamento

Se no local houver antídoto ou cartas de ação, uma votação entre os personagens que estão no local é feita para determinar quem fica com o que. Novamente, o jogador com o marcador de primeiro jogador tem a decisão final em caso de empate.

6. Escolha do primeiro jogador

O personagem que teve o último personagem a morrer na fase anterior fica com o marcador de primeiro jogador.

A nossa primeira partida

Enquanto minha esposa observada o nosso pequeno traquinas, ela deixou de lado explicações e perdeu-se no jogo, enquanto todos os demais procuravam explorar as táticas que eram mais aparentes.

O jogo flui de uma forma natural e foram poucas as vezes que recorremos ao manual de regras para tirar alguma dúvida e ainda assim deixamos passar um pequeno detalhe das regras, mas nada que comprometesse o resultado. Como eu disse no início do artigo, meu objetivo era derrotar um dos jogadores e isso eu consegui muito bem.

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Até um certo ponto, o jogo parecia fácil, mas as duas últimas horas foram cruciais. Na última hora dois jogadores perderam todos os personagens, mortos em ataques enfurecidos.

Desde o princípio as alianças e traições são fundamentais. Trocas de itens, posicionamento estratégico dos personagens e muito cuidado na hora de escolher a localidade para onde vai transferir seu personagem. Ficar na encruzilhada é sem dúvida uma das piores coisas que pode acontecer, tendo em vista que pelo menos um personagem VAI morrer.

No final da partida, Paula (minha esposa) conseguiu salvar dois personagens e ficou em primeiro lugar, eu salvei um e fiquei em segundo – descobri na última hora após perceber que peguei um pote de mantimentos que me dava dois pontos de vitória, Alexsandro ficou em terceiro por dois pontos de diferença e o Tendson ficou em quarto, com os personagens de Hemerson e Heriberto mortos.

Balanço final

Um boardgame fantástico, relativamente rápido, melhor jogador em grupos maiores 5 a 6, onde a intriga pode realmente aparecer e ser vista! Muito diferente do Last Night on Earth, capta muito bem o espírito dos filmes de zumbis, onde a sobrevivência é a pegada certa e a sensação constante de paranoia vai até o fim do jogo.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.