Este artigo foi ao ar no dia 23 de agosto de 2011 no Dungeon’s Master sob o título original The Future of Dungeons and Dragons e o traduzi por ter um certo tom profético. Há quem concorde com as palavras do Wimwick, outros com certeza não concordarão.

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Isso sempre acontece após a GenCon. Eu não sei se é a ressaca de uma semana inteira de jogos, que eu perdi esse ano, ou se é o excesso de novas informações que a GenCon nos trás, mas esse período do ano sempre me faz questionar: o que vem por aí? Para onde vamos a partir daqui? Normalmente nos é fornecido um cenário claro do que virá nos próximos doze meses durante o D&D Preview Seminar, mas neste ano tivemos apenas alguns destaques do que virá nos próximos meses. A principal razão para isso é que Mike Mearls acabou de assumir o comando das coisas que já estão em andamento, ou será que alguma coisa está acontecendo? Teóricos da conspiração acham que algo logo acontecerá.

Se você quiser saber se algo mais está acontecendo nos bastidores, tudo que você precisa fazer é ler a coluna de Mike Mearls – Legends & Lore – no site de D&D. Se você vem acompanhando essa coluna, com certeza já tem uma ideia do que ele está pensando, as perguntas que ele tem feito à comunidade e o que isso significa para o futuro de D&D. Estou certo que a 5ª edição está sendo discutida a portas fechadas, mas não tenho ideia de quando ela será lançada. Na verdade eu não me importo, pois estou me divertindo muito jogando a 4ª Edição.

No entanto, estou interessado em saber aonde a WotC irá com o D&D e como a nova encarnação se parecerá. Acredito que a melhor forma de imaginar onde estamos indo é olhar o que foi feito no passado. Não tenho dúvidas de que Mike e sua equipe estão fazendo isso. Mas só para satisfazer meu ego, aqui estão algumas opiniões sobre o assunto.

Só para me divertir, vou segmentar minhas opiniões sobre D&D 4E como um desafio de perícias. Cada elemento será marcado como sucesso ou falha.

D&D Essentials – Sucesso

Isso está certo, eu disse sucesso. Muitas pessoas, eu inclusive, erraram quando a linha Essentials foi lançada. A princípio pareceu que a 4E estava regredindo, mas ele simplificou o sistema de seleção de poderes. Eu achava algumas classes fracas, pois me deixavam com poucas opções para fazer durante o turno.

No entanto, D&D Essentials mostrou-se essencial (trocadilho intencional) para converter novos jogadores. O lançamento original do D&D 4E foi ligeiramente complexo para novos jogadores engolirem completamente, especialmente se eles se juntavam a grupos em níveis avançados. O sistema Essentials é simples, mas ainda divertido, possuindo níveis de profundidade e escolha. Ele só não é tão esmagador quanto o sistema básico da 4E foi se juntar com os suplementos Powers.

Eu disse isso antes e repito agora. Eu sinto que a linha Essentials é o que a 4E deveria ter sido desde o começo. O Player’s Handbook 1 deveria ser lançado logo após, adicionando um nível diferente de complexidade na criação dos personagens.

Eu arrisco um palpite de que a progressão dos personagens Essentials formará a linha base para a criação de personagens em um futuro lançamento de D&D.

Combate Tático – Sucesso

Serei franco e direto: o combate pode ser lento, mas também é tão profundo e rico em opções que qualquer redução na velocidade do jogo se torna aceitável. A grande quantidade de opções disponíveis para os jogadores permite o desenrolar de belas cenas durante o combate.

Mestres criativos mandam ondas de monstros, mantendo os jogadores dóceis. A administração de recursos, pulsos de cura, poderes diários, devem ser considerados durante o combate. O combate na 4E, mais do que em qualquer outra edição, requer sinergia entre os personagens e requer trabalho em equipe. O resultado de não atingir os padrões ainda é uma experiência divertida, mas quando você a leva para um novo nível e abraça o combate tático você alcança uma experiência como nenhuma outra. Em poucas palavras, você pode ter um encontro realmente lendário.

Miniaturas – Sucesso

Teria sido uma falha se a WotC tivesse mantido a sua decisão em cancelar sua linha de produtos, mas eles retificaram a situação ressuscitando a linha de miniaturas. Eu também acredito que eles tenham feito a coisa certa agora. Ao invés de uma caixa lacrada, aproximando-se da abordagem de produto para colecionadores, nós temos conjuntos com monstros que nossos jogadores amam destruir. Ou que as vezes amamos usar para matar os personagens dos jogadores. Destile seu veneno. De qualquer forma as miniaturas são inestimáveis em proporcionar a riqueza tática disponível nos combates da 4E.

Regras sem material descritivo – Falha

O Player’s Handbook 1 tem quatro seções dignas de nota:

  1. Construindo um personagem.
  2. As classes de personagem.
  3. As regras ou como conduzir o combate.
  4. Itens mágicos.

A seção sobre classes de personagem contém mais de 150 páginas devotadas a oito classes de personagens. Cada classe tem aproximadamente duas páginas descritivas. O resto são regras.

Na época aquilo era novo e excitante, mas fazia minha cabeça girar. Eu pensava como é possível manter todos esses poderes em ordem? Some a isso que os jogadores não sabem nada sobre o mundo no qual estão jogando. É preciso ler o Dungeon Master Guide para isso, mas esse livro não deveria ficar fora de alcance dos jogadores? Ok, talvez não, mas mesmo eles notaram uma falta de material descritivo na 4E. Os livros e suplementos que vieram depois não mudaram muito isso.

A linha Powers contem exatamente isso, mais poderes. Quando você observa a razão entre material descritivo e regras, a razão é inacreditável. Agora, para ser justo, a WotC percebeu isso. A linha Essentials está um passo a frente com material descritivo. Existem menos opções e um pouco mais de material descritivo sobre as classes de personagens. Eu ainda não vi o novo Neverwinter Campaign Setting, mas acredito que ele seja verdadeiramente uma grande fonte de material (isso é, material descritivo) para uso do mestre e dos jogadores.

Acredito que uma das principais razões para não termos tanto material descritivo seja a natureza tática do combate e o desejo em apresentar diferentes opções aos jogadores. Isso resulta em mais poderes sendo criados para dar suporte. Com o lançamento do Neverwinter Campaign Setting a WotC quebrou
sua regra e o cenário de campanha de Forgotten Realms agora conta com três livros. Mas olhando para Dark Sun, um de seus livros era um guia de monstros. É claro que existem materiais mais criativos que podem ser lançados para Athas. Ele não estava ativo como um cenário de campanha desde o AD&D 2ª Edição, batendo até Dragonlance, Planescape e todos os outros mundos que existiram em D&D.

Abundância de combinações raça/classe de personagens – Falha

A verdade dói. D&D 4E tem 16 classes de personagem em excesso. Digite “class” no Compendium e você terá 65 entradas. Uma vez que 25 destas estradas são Híbridos, ainda temos 40 classes de personagem disponíveis para o primeiro nível. Eu nem comecei a falar sobre os Caminhos Exemplares e Destinos Épicos.

O pior disso é que existem três opções de Fighters, três opções de Wizards, duas opções para Clerics, duas opções para Paladins e assim por diante, de forma que temos muito mais opções de classes disponíveis e muito mais variações de cada classe. É claro que isso é algo que eu já disse antes no artigo how many classes are too many?

Adicione as classes o número de raças disponíveis e as combinações se tornam estarrecedoras. Não me leve a mal, algumas são bem legais, mas como você dá suporte a todo esse material? Quero dizer, quantas pessoas estão implorando por suporte a um Shardmind Runepriest por exemplo?

Com o Character Builder se tornando uma ferramenta completamente online, a WotC passou a saber exatamente quais raças e classes estão sendo usadas. Eles sabem que ninguém está jogando com um Shardmind Runepriest. Acredito que a maioria esmagadora dos jogadores estejam usando combinações disponíveis no Player’s Handbook 1 ou nos livros da linha Essentials. São apenas 18 classes. Ok, na verdade são 9, mas a linha Essentials lançou variações para diferentes classes (Knight vs Slayer, etc.).

Eu entendo que a WotC seja um negócio, que eles precisem lançar novos produtos para fazer dinheiro, de outra forma não teríamos esse grande jogo para jogarmos. No entanto, 65 classes de personagens, com aproximadamente o mesmo número de páginas de material descritivo para explicar como a classe funciona no mundo não traz grandes experiências de interpretação. Releia minhas ideias sobre material descritivo versus regras acima para entender melhor. Siga para os Caminhos Exemplares e Destinos Épicos e o número só crescerá.

Alguns jogadores que tive me disseram que gostaram de todas as escolhas disponibilizadas pela 4E. Eu concordo com esses jogadores. Eu gosto de escolher, mas 65 classes para escolher é muito. Como eu disse no passado, reduza as opções às classes básicas e forneça mais Caminhos Exemplares para tornar esta escolha mais interessante. Por que o Warden não poderia ser um Caminho Exemplar? Ela não seria a classe robusta que é agora, mas se transformaria em dois ou mais Caminhos Exemplares.

Você só precisa escolher uma das quatro funções (papéis) disponíveis e esta é a escolha mais profunda que você faz.

Sistema de Funções – Sucesso

O D&D 4E introduziu o sistema de funções (ou papéis). Uma via oficial de categorização do que o seu personagem trás para a mesa. Eu sou fã. Eu já argumentei inclusive que as funções são a nova classe de personagem da 4E e que as classes de personagem existentes são subcategorias dentro da função.

O equilíbrio que o sistema de funções trás para o planejamento do grupo e planejamento do encontro é intrigante. Enquanto um personagem de cada função é preferencial para o grupo, ele não é essencial. De fato, muitos grupos que possuem apenas strikers são devastadores, embora sejam limitados em suas habilidades.

Jogos Públicos – Sucesso

Entre os Living Forgotten Realms, D&D Encounters e o vindouro Lair Assault, os jogos públicos foram uma benção para D&D. Nossa coluna Encounters é muito popular e tem sido uma forma dos jogadores trocar experiências sobre os D&D Encounters.

O desejo da WotC de engajar jogadores novatos e veteranos tem sido um sucesso. Os jogadores vão as suas lojas jogar D&D, conhecer novos jogadores e divertirem-se. A WotC está respondendo a altura, fornecendo grandes encontros com grandes mapas. Cada temporada parece aproveitar as experiências da anterior, proporcionando uma grande experiência de jogo.

Itens Mágicos – Falha

Eu não sou fã dos itens mágicos da 4E. Minha opinião é que todos os poderes diários e por encontro, concedidos pelos itens, são confusos e complicam o combate. Parece que em quase todos os jogos alguém pede para usar um item depois que seu turno termina por que ele esqueceu que poderia usar.

Meu outro problema é com os itens disponíveis. Sou capaz de apostar que existem muitos itens que nunca foram equipados por alguém e que nunca serão. Assim como Talentos, existem alguns que todo mundo tem. Alguns itens dão suporte apenas a construções extremamente especializadas e são selecionadas com um propósito. Esteja certo que existem algumas poucas pérolas escondidas aqui e ali e que muitos jogadores não sabem sobre elas.

Mais uma vez, meu problema não é com o número de itens disponíveis, é a adição de poderes de itens. Na 4E o combate já é uma experiência rica. Eu acredito que a adição de poderes de itens diminui o fluxo e o andamento do jogo.

Sumário

As falhas resultam em que? Uma nova edição? É claro que os itens que marquei como Sucesso podem representar Falhas pra você ou vice-versa. De qualquer forma é interessante analisar a 4E e selecionar elementos que definitivamente melhoraram o jogo e aqueles que são questionáveis.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.