Recebi a visita de alguns amigos recentemente, e chegar aqui em casa e não ouvir falar em RPG, ainda que rapidamente, é quase impossível e o assunto surgiu não sei de onde, na hora do almoço.

Minha esposa então perguntou se esses meu amigos já haviam jogado, e então um deles responde:

Eu até tentei jogar, mas o grupo que jogava me disse que eu não tinha perfil.

Quase jogador anônimo

Eu confesso que fiquei estarrecido com isso. Primeiro porque isso vai completamente de encontro com o que eu creio, seja a premissa de um jogo social, no qual a inclusão de todos e quaisquer interessados fosse condição básica.

Ao mesmo tempo, vai caindo a ficha de uma série de situações que presenciei em algum momento, e que me fez acreditar durante algum tempo, que uma boa parte dos grupos de RPG, para não dizer a maioria, são xenofóbicos… no mínimo.

Durante um evento que promovemos no IFRN, em 2008, saí para almoçar com alguns amigos no shopping que fica de frente ao local do evento e vimos um pessoal jogando RPG na praça de alimentação, num barulho daqueles. Na cara de pau me aproximei e convidei o grupo a ir no evento, jogar lá, inclusive em um ambiente mais acusticamente adequado, mas recebi uma resposta um tanto quanto inesperada:

Não gostamos de jogar em eventos. A aventura é do nosso grupo, e não abrimos para outras pessoas.

Um jogador anônimo.

Véi, os caras estavam jogando na praça de alimentação de um shopping, movimento pra caramba e justificaram não querer atravessar a rua, e jogar em um espaço mais adequado, porque não gostavam de jogar em evento e abrir sua aventura para outras pessoas.

Refleti sobre aquilo durante muito tempo, tipo, ainda reflito sobre isso, mais de onze anos depois. E quando ouço um amigo dizer que não se tornou jogador porque lhe disseram que não tinha perfil, é impossível não voltar no tempo e lembrar dessa situação.

Hoje eu já consigo entender pessoas que não curtem eventos, que preferem jogar apenas com seus grupos, que não abrem espaço para novatos, mas entendo também porque tem tanto grupo que vai às redes sociais reclamar porque não consegue montar um grupo presencial, e que tem até dificuldades em manter um grupo virtual.

Quando discutíamos lá atrás, sobre fazer mais eventos, sobre formar mais jogadores, ampliar as nossas mesas, muitas pessoas torciam o nariz, dizendo que aquilo era obrigação das editoras.

Houve uma época em que muitas pessoas só iam a eventos se soubessem que haveria o sorteio de algum produto e isso virou quase uma obrigação. Se não tivéssemos dados, miniaturas, livros, sendo sorteados em eventos, a participação era mínima, e com isso uma sensação de frustração que me acometeu durante algum tempo, mas que superei graças a um tratamento psicológico intensivo.

Eu também entendo, hoje, a razão pela qual alguns grupos simplesmente se mantém fechados, não admitindo novos jogadores, afinal, a relação de amizade entre os membros do grupo as vezes foi algo construído durante anos, e normalmente a chegada de um novato pode desestabilizar esse grupo… sabe, aquela coisa de que fulano agora é mais amigo do novato do que dos outros… sei lá, acontece.

Mas deixando as brincadeiras de lado, acredito que quando dizemos para alguém que gostaria de conhecer o jogo, que ele ou ela não tem perfil para o jogo, estamos dando um tiro enorme nos próprios pés.

Um dia, devido aos compromissos da vida adulta, podemos não ter um grupo que consiga se reunir com regularidade, embora aquela pessoa que tenha querido jogar esteja disponível, mas não mais para o jogo, afinal, ele foi convencida de que não tinha perfil para jogar.

Lembrando das mais diversas mesas de RPG nas quais mestrei, nas quais joguei, das quais vi jogando e até mesmo em streamings hoje em dia, não consigo, dentro de todas as minhas limitações, determinar o que poderia ser o perfil de um jogador ou jogadora, embora talvez essa seja uma limitação minha.

E vocês? Já ouviram ou viram uma situação como essas? Acham que existe um perfil de jogador ou jogadora de RPG?

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.