O RPG Lamentations of the Flame Princess (LotFP), como já foi dito inúmeras vezes por aqui, é um retroclone de D&D, mas que foca no sobrenatural, e o autor sugere inclusive que o mestre use um cenário o mais próximo possível de nossa terra, embora eu repita que ele é o melhor RPG – melhor até do que o D&D – para rolar aventuras no cenário de campanha de Ravenloft, se adaptando muito bem a ele.
As edições mais recentes do Dungeons & Dragons foram responsáveis pela banalização dos itens mágicos, que passaram a ser uma ferramenta de equilíbrio entre os personagens e os monstros e não mais uma ferramenta importante da estória. Ninguém se empolga mais em ter uma Vingadora Sagrada pelo que ela é, mas sim pelos bônus que ela concede.
Os itens mágicos devem ser raros, únicos e acima de tudo misteriosos.
Itens mágicos fazem parte das estórias de fantasia, é uma parte até mesmo essencial, eu diria, mas não devem ser banalizados e eis que temos mais um conselho vindo do LotFP:
Nunca crie um item mágico que sirva simplesmente para melhorar características. Nada de armas, escudos ou armaduras +1.
Em um sistema como o LotFP, que basicamente não tem um sistema de progressão para personagens que não sejam guerreiros, um item +1 poderia criar um grande desequilíbrio, ainda mais se fosse produzido em massa, como em muitos cenários oficiais por aí.
TODOS os itens mágicos são artefatos, itens únicos de grande poder, e não bugigangas ou ornamentos.
Particularmente, este sempre foi o meu pensamento em relação a itens mágicos, coisa que o LotFP resgata em grande estilo. Vejam um exemplo de item mágico.
O Olho Maléfico da Putrescência.
O Olho Maléfico aparece como um globo ocular amarelado, como se pertencesse a um homem morto. Ele só pode ser utilizado por alguém que remova seu próprio olho esquerdo e o substitua pelo olho maligno. Após fazê-lo, o indivíduo sofre uma penalidade permanente de -2 em seu valor de Carisma (a partir deste momento ele fica irremediavelmente marcado pelo uso das artes malignas da necromancia) e todas as penalidades em jogadas de armas de projéteis são dobradas (o olho não funciona como um órgão sensorial). Além disso, assim que o olho for colocado no lugar, o indivíduo deve ser bem sucedido em um teste de resistência versus veneno ou sofrerá os efeitos letais do próprio olho.
Uma vez que o olho estiver no local, o indivíduo adquirirá a habilidade de lançar um olhar de definhamento sobre seus oponentes. Este olhar requer que a vítima seja bem sucedida em um teste de resistência contra venenos, em caso de falha, ela morrerá de forma horrível, apodrecendo de dentro para fora, terminando como uma pilha fumegante de vísceras. Todos em um raio de 6 metros da vítima devem ser bem sucedidos em um teste de resistência versus veneno ou ficarão nauseadas por 1d10 rodadas (penalidade de -1 nas jogadas de ataque e dano).
Cada utilização diária do olhar de putrescência requer que o indivíduo realize um teste de resistência versus veneno, à medida que o olho faz com que o usuário apodreça lentamente. O primeiro uso por dia não tem modificador no teste de resistência, o segundo uso tem um modificador de -2 e outras utilizações são feitas com penalidade de -4. Uma falha no teste de resistência significa que o usuário perde 1 ponto de Constituição – permanentemente. Se o usuário é reduzido a 0 pontos de Constituição, ele fica reduzido a um monte de vísceras fétidas, com somente o olho maligno permanecendo inteiro e esperando pela próxima vítima.
O olho maligno pode ser removido e substituído pelo olho original do indivíduo, mas é claro que o olho original jamais funcionará novamente.
Sem duvida que poucos jogadores se arriscariam a usar este item mágico maligno… em um outro RPG, mas estamos falando de LotFP, onde o sobrenatural espreita e tudo são tons de cinza. Os personagens podem ser persuadidos a usar o item por meios mágicos; podem ser levados a crer que o item tem outros poderes; ou mesmo podem fazê-lo intencionalmente em decorrência de alguns fatos ocorridos na história.
Motivos não faltam. E vocês? Curtiram? Deixem seus comentários.
Excelente Item Franciolli, pra mim item mágico tem que ser assim: História + poder. Acho estranho um mundo que itens mágicos são como os celulares hoje em dia, todo mundo tem O.o haha
É isso aí Pedro. O LotFP resgata algo que se perdeu nas edições mais recentes do D&D, indo um pouco além. Itens mágicos não são celulares de 99,00 e três chips 🙂
Caramba, me arrepiei todo com a descrição desse item! (hétero) kkkkk
Em breve trarei outros, aí quero ver você dizer que está todo arrepiado 🙂
Particulamente em meus jogos de tagmar sempre usávamos o conceito de itens mágicos raríssimos, uma espada +1 pessoal quase chorava de emoção ; itens que tivessem outros poderes então… Acho que isso valoriza mais o conceito da arma e pode-se criar toda uma campanha em torno dela ou em torno de sua história.
Muito interessante, os itens mágicos hoje em dia vale mais o bônus do que o item em si.