Aventura de Tagmar 2.
Cenário: Terra Média.
Um Istari (Laurësil), uma elfa patrulheira (Limiel), um anão guerreiro (Glorand) e um guerreiro numenoriano (Ingbnil), após reunirem-se com Círdan “O Armeiro”, partem dos Portos Cinzentos em direção a Lindon, onde devem encontrar-se com contatos de Círdan que lhes falarão sobre estranhos fenômenos que estão acontecendo na Terra Média.
Saindo do Golfo de Lhûn, o grupo segue avistando as Ered Luin e Glorand, o anão, percebe uma movimentação ao longe. Um grupo, àquela distância não possível de determinar. Observando a movimentação do outro grupo, a caminhada é retomada até um pequeno córrego, que é utilizado como um obstáculo, caso o outro grupo seja hostil. Logo, identifica-se o outro grupo, como sendo de Orcs. Quinze orcs perambulando próximo as Ered Luin. O grupo se prepara para a batalha. Limiel sobe em uma árvore próxima disparando flechas. Ingbnil com seu arco de guerra fica ao lado de Laurësil e Glorand, que aguarda as criaturas aproximarem-se de seu potente machado.
Quando as criaturas se aproximam, as flechas do arco de Limiel e Ingbnil são disparadas em rápida sucessão, derrubando dois orcs. Aproximando-se um pouco mais do riacho, Laurësil dispara três dardos de gelo, derrubando mais dois e ferindo um terceiro orc. Tentando atacar Ingbnil, dois orcs caem, assim como dois outros tentando atacar Gloran. Laurësil sofre dois ataques dos orcs, mas consegue desviar-se dos mesmos, mas logo se vê cercando por três orcs.
E então… os dados da destruição.
Cercado por três orcs, Laurësil conjura uma bola de fogo no espaço em que ele mesmo estava, esperando sobreviver ao ataque e destruir os orcs, mas sua atitude impensada, insana e alguns diriam idiota, não sai exatamente como ele queria.
São quatro ataques, um contra mim mesmo e outros três contra os orcs. Lanço primeiro o dado contra mim…
Estas poderiam ter sido suas últimas palavras, caso o MJ não tivesse reconsiderado o ato idiota do mago, numa sucessão no minimo desconcertante.
Jogo na tabela 6, porque estou usando Bola de Fogo 6. Vinte no dado! Um crítico. O dano vai direto na minha energia física. Jogo de novo para ver os efeitos do crítico. Um 18 no dado. Recebi 100% de dano na minha energia física, ou seja, 28 pontos de dano da Bola de Fogo e ainda perdi o pé devido o choque resultante da magia.
Minha energia física é 15, logo fiquei com -13 de energia física. O personagem morre com -10. Matei o personagem.
Deixa eu jogar para os orcs agora.
Primeiro: 2; errei.
Segundo: 2; errei.
Terceiro: 3; errei.
Durante um tempo, todos param e ficam considerando aquela cena. Completamente atordoados com o acontecido. O jogador que interpretava o Istari não tinha palavras para expressar o que acabara de acontecer. Era surreal. Os dados agiram contra ele, de uma forma que merecia ser registrada.
O mestre olhou ao redor, e disse que tinha certeza que aquele personagem não teria agido daquela forma e reconsideraria a ação. A história falou mais alto que uma ação idiota e ao invés de conjurar a magia, o personagem recuou até próximo da árvore onde Limiel se encontrava.
A batalha continuou e após várias baixas, os orcs fugiram, ou pelo menos uma pequena parte deles.
Moral da história
Os dados conspirarão contra os jogadores e quando a ação for idiota, eles conspirarão como jamais poderia se imaginar.
Ei Franciolli!Bom como você teve o trabalho de publicar esta anedota da sua mesa, acho que é fair play comentar o que acho deste tipo de situação. Então lá vai! Não foram os dados que “conspiraram”. O jogador tomou uma decisão calculando (erroneamente pelo visto) uma série de probabilidades, e se deu mal. Até aí normal, acontece toda hora. O que acho curioso foi a forma como o grupo resolveu tratar isso.O mestre toma a iniciativa de oferecer uma segunda chance, com a poderosa justificativa que o personagem não teria feito aquilo. Mas ele não havia acabado de fazê-lo? Se a gente for direto ao cerne da situação – um ataque arriscado contra o grupo de orcs que acertaria o próprio conjurador – mas o resultado tivesse sido oposto, um sucesso decisivo nos orcs e uma falha no ataque nele mesmo, o mestre teria tomado a mesma postura de dizer que o mago não faria aquilo e também negaria os efeitos? Ou então porque não questionar o curso de ação adotado antes de rolar os dados?Morrer também faz parte da história, seja de maneira heroica ou imbecil. A história não falou mais alto. Ela foi modificada para amenizar as consequências de uma ação de um personagem.
Obrigado pelo comentário Rocha :)Na situação em questão, qualquer curso de ação diferente da que realmente aconteceu seria, sem dúvida, muito forçada e eu concordo plenamente com isso.Um dos argumentos levantados, e talvez até justificável, mas ainda recaindo na minha afirmação anterior, é que apenas um membro do grupo, que nem era o mestre, conhecia as regras de Tagmar, de forma que dizer que “mas ninguém conhecia o sistema a ponto de inferir que uma ação dessas tivesse uma consequência tão drástica” atenuaria, mas não resolveria a situação.Contudo, concordo que foi algo bem complexo e até constrangedor 🙂
LOL!!!!E se fosse no DW? rsrs
Mas aí que tá! Não me parece que esta situação foi nada complexa. Vocês decidiram ignorar uma das regras centrais do Tagmar (pelo que me lembro do original, não li esta edição) que são suas tabelas de acertos críticos extremamente perigosos. Me parece que foi uma decisão simples, de voltar atrás quando viram os efeitos da mecânica de acertos decisivos. E nisso, se me permite ser mala, podem ter ignorado uma das principais características do jogo.
DW não tem espaço para tamanha destruição 🙂 Eu acho! 🙂
quando isso acontece quase sempre o grupo dá um loadgame e finge e nao aconteceu ou o mestre da uma roubada para os jogadores. como no exemplo descrito.
E de fato Rocha, não foi complexa. Digamos que no ímpeto pensou-se assim: “isso jamais acontecerá comigo”.O tiro saiu miseravelmente pela culatra, e para não prejudicar a história que estava começando a ser contada, o grupo preferiu “dar uma segunda chance”.Os argumentos não vão de encontro ao que você fala, de forma nenhuma, mesmo quando está sendo mala. 🙂
E qual a sensação Thito? Quando isso acontece? Todo mundo leva na boa, ou fica uma sensação estranha na mesa?
Como também sou mala, concordo com o Rocha. O único ponto que amenizou o final foi que todos concordaram com o “load game”, o que já é um avanço frente ao mestre que altera dados por trás do escudo.Pra mim as regras do sistema entram em jogo quando o resultado é incerto, quando existe uma pergunta a ser respondida dentro da ficção. As regras então entram em jogo e respondem a pergunta. Se a resposta que o sistema deu foi insatisfatória e o grupo inteiro resolveu alterar o resultado, é um sinal muito claro que o sistema não está alinhado com o tipo de respostas que o seu grupo considera adequado.Note que eu não sou contra o table talk, ou off topic, onde o mestre ou outro jogador simplesmente perguntaria “Você tem certeza? Você pode muito bem morrer e não conseguir matar nenhum orc”. Isso eu considero uma prática bastante saudável, deixar bem claro o que pode acontecer de errado antes do jogador decidir fazer o teste. Mas depois que ele fez, é “trapaça” simplesmente ignorar o que o sistema disse. Considero importantíssimo que os jogadores e o mestre estejam jogando pelas mesmas regras, isso facilita bastante o contrato social e gera muito mais confiança entre as partes.Note que existe uma situação onde este tipo de retcon não é problemático: no scene framing. Quando o mestre faz um enquadramento de cena mais agressivo, é normal algum jogador interromper e dizer “Ei, antes disso eu queria falar com o fulano sobre o artefato!”. Neste ponto o jogo retorna para onde o jogador quiser e é interpretado normalmente. Este tipo de coisa se torna mais raro quando os jogadores e o metre entram em sintonia no scene framing, mas mesmo assim neste tipo de situação é perfeitamente aceitável “voltar no tempo”.Mas estes são meus 2 centavos. 🙂
E passam a entender melhor a letalidade do sistema que estão usando 🙂
Bem,Vi algumas postagens feitas sobre o assunto e por se tratar de uma aventura mestrada por mim, me sinto no direito de abordar alguns aspectos que talvez não tenham sido considerados nos julgamentos precipitados que foram realizados.A questão central, na qual se insere esse problema é que nunca havíamos jogados no sistema Tagmar, particulamente, esta é minha primeira aventura como mestre, o que pode deixar uma leve suspeita de inexperiência na condução da história por parte do DM. Contudo, antes do jogo, foi conversado com os demais jogadores que trataríamos a primeira sessão como um teste, para um entendimento da sistemática como também avaliação do nível dos encontros e desafios que o grupo deveria passar.Dessa forma, houve um “Contrato social” para que pudessemos perceber possíveis distorções que o desconhecimento do sistema pudesse gerar.Outra coisa que julgo importante é o fato que “Advogar” a favor de regras não traz benefícios para o jogo. Não conheço uma pessoa que ganha dinheiro jogando ou que seja paga por isso. O propósito é diversão. A personagem que iria MORRER na dita cena, tinha um papel importantíssimo no cenário pensado no jogo, assim como as demais. O desafio foi gerado como uma avaliação e mesmo que não o fosse, MATAR personagens ( pelo menos na minha opinião ) deve servir a um próposito em qualquer narrativa.A Trapaça ou Roubo no jogo se caracteriza por obter uma vantagem em relação a outrem ou a um grupo. Esse não foi o caso, visto que todos sairam beneficiados com o resultado.
[…] semana, me deparei com um texto interessante, publicado no Forja RPG, que reavivou muitas experiências semelhantes na minha mente: atos considerados […]
Jorge, de maneira nenhuma eu estava criticando o grupo ou você. O que eu estava tentando fazer é tirar esse mito do “para o bem da história” e o que você mesmo acabou de mencionar de “o propósito é diversão”. A diversão pode ter inúmeras facetas diferentes, é um pensamento bem errado no nosso hobby pensar que existe uma dicotomia entre usar as regras e se divertir.Esta falsa dicotomia existe pois o grupo não está alinhado com o sistema, conforme expliquei no meu comentário. Conforme você mesmo explicou, era a primeira sessão e esse tipo de coisa era esperada, é normal. Passei por isso no meu jogo de Burning Wheel, onde questionei as severas consequências que o sistema dava para quem falhava em um teste em magia. No caso, eu resolvi aceitar o que o sistema disse e segui as regras, mas tanto faz se eu tivesse ignorado e feito uma house rule ou dado um “load game”. O que importa é que neste momento o que eu esperava no jogo entrou em conflito com o sistema, e neste tipo de situação o sistema pode muito bem atrapalhar o jogo.Isso é apenas a máxima do “sistema importa” em prática. Não foi uma crítica, foi apenas uma observação sobre como não estamos acostumados a pensar dessa forma, e disfarçamos com “não importa o sistema”, “o que importa é se divertir” e “não existe jeito certo”. Isso além de não ajudar, ainda oculta o que pode acontecer de errado no jogo e no contrato social.Sobre isso ser trapaça ou não, eu concordo que o termo foi meio forte. É apenas um momento em que as regras do jogo entraram em conflito com o que o grupo espera. O problema, como o Rocha disse, é que esse poder está quase sempre nas mãos do mestre. Ou por acaso é comum e esperado que jogadores rolem dados atrás de um escudo e mintam o resultado das jogadas “para o bem da história”?Espero que tenha conseguido deixar mais claro o meu pensamento, que de forma nenhuma foi uma crítica a você ou ao grupo.
Muito bem explicado Pedro Leone!! Concordo plenamente com você. O grupo em questão é formado por pessoas que jogam RPG há um bom tempo. O que estamos tentando fazer com esses testes é trazer o jogo pra uma dinâmica mais confortável e ágil. Pensamos até em simplificar a tabela de resoluções, visto que todos temos outras ocupações ( Leia-se TRABALHO hehehehehe) e o tempo nesse caso é nosso inimigo. Compreendo seu comentário e minha indagação só teve o propósito de esclarecer alguns pontos que não foram citados.Grande abraço!!