Saudações, aventureiros.

Certa vez escrevi o processo de criação de personagens utilizando o sistema Mythras (veja aqui), um sistema que tenho considerado como o ideal para narrar as minhas propostas.

Nos últimos dias, aproveitando as férias que finalmente chegaram, comecei a fazer uma nova leitura desse sistema, com o intuito de fazer algumas adaptações para cenários como Forgotten Realms, Ravenloft, Borderlands (Swords & Wizardry), Karameikos, etc., utilizando um gancho do artigo Se Aventurando em Waterdeep – O Sistema Importa, escrito pelo Pedro Leone em 2013.

A criação de personagens em Mythras é dividida em 10 partes, sendo a sétima parte destinada ao detalhamento dos aspectos que ligam o personagem a sua comunidade, o que envolve a determinação da classe social do personagem, seus recursos iniciais, sua família, e possíveis aliados, contatos, rivais e inimigos.

O que me deixa interessado nessa parte, especificamente, é que ela pode ajudar a dar uma cor especial ao personagem, tirando-o daquela mesmice de personagem órfão que não conheceu os pais, etc., mais comum do que possa parecer.

O conteúdo a seguir pode ser utilizado com Dungeons & Dragons 5E, como complemento aos elementos de vínculo (bonds) e expandindo os históricos (backgrounds).

CLASSE SOCIAL

A classe social impacta diretamente na quantidade de recursos iniciais de um personagem e se apresenta na forma de um modificador para os recursos.

Um personagem advindo de uma cultura civilizada, inicia o jogo com 4d6 x 75 peças de prata, correspondendo em D&D a um valor que varia entre 30 a 180 peças de ouro. Note que, na página 143 do Players Handbook, na tabela Starting Wealth by Class, os valores variam entre 20 a 80 moedas de ouro (Bárbaro e Druida – históricos considerados de cultura bárbara) a 50 a 200 moedas de ouro (Bardo, Clérigo, Guerreiro, Paladino e Ranger).

Para determinar a Classe Social do personagem, jogue na tabela abaixo e aplique o modificador de recursos, multiplicando o recurso inicial do jogador, de acordo com a tabela na página 143 do Players Handbook, pelo multiplicador de recursos.

Grendel Lacatus é um mago de primeiro nível, que de acordo com a tabela Starting Wealth by Class, precisa jogar 4d4 x 10 para determinar a sua quantidade inicial de recursos. Fazendo a jogada ele obtêm (1 + 4 + 2 + 4)  x 10, para um total de 110 moedas de ouro. Jogando na classe social, ele consegue 92%, significando que sua família é da classe Senhorial, o que garante um multiplicador de x3 para seus recursos iniciais, totalizando 330 moedas de ouro iniciais.

FAMÍLIA E CONEXÕES

Pais, irmãos, outros membros da família, reputação e conexões. Tudo isso podemos encontrar nessa parte. Nela, uma quantidade infindável de inspiração pode ser encontrada para dar ainda mais cor à sua aventura ou campanha.

Grendel joga os dados mais uma vez e obtêm 34%. Consultando a tabela, verificamos que o resultado obtido significa que apenas o seu pai está vivo.

Estar vivo não quer dizer que morem juntos, principalmente depois que o personagem começa a sua vida de aventuras e nem que os pais aprovam o caminho escolhido pelo filho ou filha, e nesses momentos me pego criando inúmeras situações para deixar o histórico do personagem ainda mais rico.

Mas passemos então para a próxima tabela e verifiquemos se o nosso personagem possui ou não irmãos.

Grendel agora joga os dados para determinar quantos irmãos ele tem. A jogada no d100 resulta em 17%, indicando que ele tem 1d4 irmãos. Enquanto nessa segunda jogada ele obtêm 3. 

Depois pensamos nos nomes dos irmãos de Grendel, o importante é que ele tem uma família e isso, muitas vezes, é razão mais do que suficiente para fazê-lo querer lutar ou desistir de alguns empreendimentos para manter a segurança de sua família.

Sabendo que o nosso personagem tem pai e irmãos, cujos nomes vocês determinarão depois, vamos ver agora outros membros da família. Aquelas pessoas que de vez em quando podem aparecer pedindo algumas moedas de ouro emprestadas.

Primeiro, Grendel joga na coluna Avós, obtendo 17% e 1d2-1, obtendo zero como resultado. Logo, infelizmente, os avós de Grendel não lhe contam mais histórias. Só restam memórias. Na coluna Tios e Tias, o nosso jogador obtêm 93%, mas em sua jogada de 1d6, a sorte lhe reservou o número 1. Um único tio ou tia, que pode ter sido aquela ovelha negra que o levou para o caminho da magia. Na coluna de primos, ele obtêm 08%, o que quer dizer que ele não possui primos.

Agora que já conhecemos quantos membros a família do nosso personagem possui, é hora de ver como é a reputação da família na comunidade e as conexões que ela possui.

Dependendo da reputação e das conexões na sociedade, é possível que a família e o personagem tenha aliados, contatos, inimigos ou rivais, agora, o que cada um deles representa?


Aliados são amigos, colegas ou associações que compartilham a mesma causa do personagem, oferecendo ajuda e orientações quando requisitados. Dependendo de sua personalidade, os Aliados podem exigir um favor em retribuição ou ajudá-los livremente.

Contatos são pessoas de influência potencial que o personagem conhece. Um contato é um conhecido que pode ajudar, não um contato que irá ajudar.

Rivais são aqueles que se apõe ao personagem devido possuírem objetivos iguais ou similares. Eles tentarão interferir ou importuná-lo.

Inimigos são aqueles que desejam prejudicar o personagem e farão o possível para garantir que o personagem sofra de alguma maneira. Os inimigos podem agir diretamente ou indiretamente, possivelmente tentando influenciar contatos e aliados para trazer desgraça ao personagem.


Nessa tabela Grendel obtêm 55% na jogada, indicando que sua família possui uma Reputação Sólida, sem aliados, contatos, inimigos ou rivais.

Agora vamos para a última tabela, onde verificaremos quão extensas são as Conexões da família.

Grendel joga na tabela acima e obtêm  70%, indicando que sua família possui boas conexões na comunidade. Jogando 1d4 ele consegue 3, o que significa um inimigo. Alguém está incomodado com a família do personagem e sua reputação na comunidade.


Embora não seja consenso (isso não existe), acho muito interessante a utilização dessas tabelas na criação dos personagens.

Ao adicionar esses elementos no histórico do personagem, sempre teremos algum combustível para inspirar aventuras futuras, mesmo que eles não venham a ser utilizados imediatamente em jogo. Além disso, os personagens normalmente vão poder voltar aos seus lares após uma dura empreitada, com suas ações influenciando, por exemplo, a reputação da família.

Até o próximo artigo.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.