As Crônicas de Gelo e Fogo representam, sem dúvida alguma, um grande fenômeno, seja em sua versão televisiva ou romanceada, que só se tornaram populares aqui no Brasil após o fenômeno da série, da mesma forma que os livros d’O Senhor dos Anéis ganhou popularidade após os filmes de Peter Jackson.

Caminhando pela mesma vertente, espero que o RPG da Green Ronin Publishing, A Song of Ice and Fire, que já está em fase de pré-venda na Jambô Editora com o título Guerra dos Tronos RPG seja um sucesso.

No momento que escrevo este artigo, estou terminando a leitura do terceiro volume do romance, A Tormenta de Espadas, e me sinto extremamente inspirado por cada palavra escrita pelo autor. Ele nos fornece uma visão maravilhosa e aterrorizante de tudo que pode acontecer em um grande reino ameaçado pela guerra e perigos ancestrais.

Do romance como um todo, extraio algumas reflexões, e neste artigo faço uma breve comparação entre a ânsia por armas melhores que vemos em nossas mesas de RPG e que parecem não existir em romances que inspiram os RPGs ou que são inspirados nele.

As armas

Todo aventureiro, ou pelo menos a maioria deles, precisam recorrer às armas para defender-se em algum momento de suas carreiras e  fazendo algumas analogias entre os romances de Guerra dos Tronos e Dungeons & Dragons rascunhei algumas ideias, que as exponho aqui.

As Armas em Guerra dos Tronos RPG

Em A Game of Thrones RPG as armas são categorizadas de acordo com a sua qualidade, podendo ser inferiores, comuns, superiores e extraordinárias.

Armas de qualidade inferior são utilizadas normalmente por pessoas de baixo nascimento forçados a entrar em batalha e qualquer outro tipo de desesperado. Enquadram-se nesta categoria, armas como forquilhas, espadas enferrujadas, etc. A utilização desse tipo de arma impõe penalidades no ataque.

Armas de qualidade comum são produzidas por armeiros comuns, que podem ser encontrados em qualquer vila ou cidade e em tempos de necessidade podem produzi-las em massa. A maioria dos guardas da cidade e soldados de infantaria usam armas de qualidade comum. Estas armas não concedem penalidades ou bônus aos seus usuários.

As armas superiores, também chamadas de armas de castelo, são forjadas por mestres-armeiros especializados e utilizam as melhores matérias-primas para sua confecção. Normalmente são assinadas pela marca do ferreiro e estas ajudam a criar uma história para a arma. Estas armas custam bem mais que uma arma comum e concedem um bônus nos ataques feitos com ela.

As armas extraordinárias são fabricadas a partir do Aço Valiriano, possuindo uma qualidade ainda maior do que as armas superiores. Estas armas conseguem manter seu gume extremamente afiado e é mais leve que uma arma de qualidade superior do mesmo tipo. Dizem que forjar o aço valiriano requer magias que permitam o aço seja dobrado centenas de vezes. Estas são as armas mais próximas de mágicas no cenário de Guerra dos Tronos RPG, concedendo bônus nos ataques e danos.

Arya e Needle

Quando lemos os romances da série, percebemos claramente a diferença entre as armas dos combatentes, e até agora, leio sobre Arya lembrando-se de Agulha, a espada que que seu irmão Jon Snow lhe entregou em Winterfell, quando ela estava de partida para Porto Real.

Armas tem história, e os personagens de Guerra dos Tronos não parecem muito propensos a sair aventurando-se por armas melhores.

As Armas em Dungeons & Dragons

Todas as edições parecem enquadrar as armas na categoria normal, na terceira edição (me corrijam se isso tiver vindo antes) tivemos a implementação das armas obra-prima, que concediam um bônus não mágico de +1 nas jogadas de ataque. Além disso, armas poderiam ser de materiais exóticos, como adamante por exemplo, e os itens mágicos sempre abundaram, embora tenham evoluído com o tempo.

No D&D Basic Rules (TSR, 1981) não temos uma coleção de armas mágicas apresentadas, apenas uma breve descrição que informa que o usuário de uma arma mágica deve aplicar o ajuste da arma tanto a chance de acerto quanto ao dano, mas durante um bom tempo as armas pareciam estar limitadas a um bônus de +5, chegando ao +10 no nível épico da terceira edição, e retornando para um patamar um pouco inferior (+6) na quarta edição, embora essa mesma arma +6 pudesse ter vários poderes associados.

Os bônus das armas mágicas sempre foram muito importantes em Dungeons & Dragons devido o seu escalonamento de Classe de Armadura e resistências e sempre gerou um fato curioso, que acredito já rendeu muitos artigos interessantes na web, sempre que um personagem consegue uma arma com um bônus maior, ele a troca, o que nunca dá margem para uma arma com história, embora a quarta edição tenha apresentado a possibilidade de transferir o poder de uma arma para a sua arma de família. Ainda assim, a teoria é muito mais interessante do que a prática.

Drizzt_Do__Urden_by_TierBanre

Interessante notar que os próprios romances de Dungeons & Dragons contradizem o que se vê nas mesas de jogo, onde os personagens estão a todo instante buscando armas melhores. Nos romances de R. A. Salvatore, temos Drizzt Do’Urden por exemplo, com as suas duas cimitarras mágicas, enquanto Wulfgar carrega o seu martelo de batalha confeccionado pelo anão Bruenor.

Concluindo

Embora não tenha jogado Guerra dos Tronos RPG, percebo que, no que diz respeito as armas, o sistema mantém uma proposta fiel ao romance, onde não vemos personagens trocando de armas a todo o instante.

Nos romances dos universos de Dungeons & Dragons, os personagens mantém a mesma postura dos personagens das Crônicas de Gelo e Fogo, mas o comportamento dos personagens nas mesas de jogo é completamente contraditóri
o. Existe uma verdadeira guerra para encontrar itens mágicos (leia-se armas), simplesmente porque o sistema de jogo – pelo menos até a quarta edição – escalonava a progressão de tal forma que um personagem só estaria equilibrado se tivesse uma arma mágica.

Espero que com a mudança drástica do escalonamento do D&D Next a corrida armamentista seja refreada e possamos ter personagens nas mesas de jogo tendo atitudes mais próximas dos personagens dos romances em relação às armas.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.