Recentemente conversei pelo twitter novamente sobre a afirmação de que “O RPG está morrendo”. Eu não entendo nada de mercado e não pretendo falar disso, mas pra mim uma coisa é bastante óbvia: o RPG tem tão poucos jogadores porque é muito difícil se divertir com ele.

Eu não estou falando de difícil no sentido de requerer esforço, ou gasto, ou da competição com formas de entretenimento mais facilmente disponíveis atualmente. Eu falo no sentido de que nós sequer entendemos o que fazemos ao redor de uma mesa, muito menos conseguimos explicar qual é a graça disso e como ter essa diversão consistentemente.

Passamos tanto tempo pensando em regras, sistemas e cor (monstros novos, aventuras, itens mágicos, etc) que deixamos de nos importar com o fato do RPG ser uma atividade social, que o relacionamento e o comportamento das pessoas que estão jogando influenciam muito mais na diversão do jogo do que qualquer outro detalhe externo a isso.

Recentemente li um tópico no Forge falando exatamente sobre estes problemas no nível das pessoas, ao que o Ron Edwards respondeu:

Para se engajar em uma atividade social e criativa, três coisas são absolutamente requeridas. Pense em música, teatro, costurar, qualquer coisa que quiser. Estes princípios também se aplicam em jogos competitivos e esportes, mas esse não é o ponto atual.

1. Você precisa confiar que os procedimentos funcionam – olhe, estes instrumentos fazem sons diferentes, então podemos fazer música; olhe, esta bola quica, então podemos arremessá-la e dribá-la.

2. Você precisa querer fazer isso, agora, aqui, com estas pessoas – importante! (a) ao contrário de outras atividades, (b) ao contrário de “com qualquer um que me permitir participar’.

3. Você tem que experimentar, para refletir de forma significativa nos resultados, e tentar novamente – se vale a pena fazer, vale a pena aprender a fazer melhor; falhar não é um desastre, melhorar é uma virtude.

A opinião do RE, e que eu concordo completamente, é que o RPG frequentemente falha nestes três aspectos, ao mesmo tempo. Encontrar uma maneira de resolver isso e consertar nossa cultura RPGística tão fraturada e quebrada é um desafio que tem sido enfrentado por muitos designers, tanto de jogos independentes quanto os tradicionais.

Não é a toa que muitos grupos que conseguem uma boa interação nos três pontos falado pelo Ron Edwards acabam se afastando da comunidade e deixam de participar de eventos, se isolando dentro do próprio grupo. Isso é algo que atualmente é tão raro e difícil de se encontrar, que para muita gente não vale a pena arriscar.

O grande problema do RPG é que essas questões sociais quase nunca são abordadas, deixando para que cada grupo descubra individualmente a sua “fórmula mágica”: como se divertir, com mais frequência do que não, jogando RPG. O que pode parecer simples e banal com certeza já fez muita gente se afastar do hobby e simplesmente desistir de RPG em troca de outra atividade que seja, em última instância, mais fácil de se divertir.

Esse é o grande desafio do RPG, para que ele possa florescer como hobby e atividade de entretenimento que todos nós queremos que ele seja, em minha modesta opinião.

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Escrito por Pedro Leone
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