Saudações aventureiros e leitores/leitoras da ForjaRPG! Apesar de estar de férias, ando bastante ausente das redes sociais e ainda mais do blog. Isso porque a férias é só do trabalho – ando “trabalhando” muito mais em casa do que antes de sair de férias. Outro motivo que tem me deixado longe do blog é que não ando conseguindo marcar jogo por aqui, o que diminui bastante minha vontade de falar sobre RPG. Mas tem algo que anda me incomodando muito toda vez que me pego pensando em escrever alguma coisa relacioado a RPG eu imediatamente entro na defensiva. Afinal de contas, por que é tão difícil falar sobre RPG sem que alguém fique ofendido?

Você pode me ouvir dando todas as desculpas e explicações possíveis sobre “não existe jeito certo ou errado” na gravação que tive com o Ricardo Tavares sobre as Agendas Criativas no seu podcast Jogador Sonhador. Eu não consigo falar meia dúzia de frases sem assumir uma postura apologética, com a intenção de ofender o mínimo possível.

Isso deve vir da própria definição do nosso hobby – não existe uma receita ou fórmula que defina o nosso hobby como um todo. Mesmo procurar uma definição para o que é RPG é algo complexo, de tão diversa que é essa atividade. Contraste isso com um grupo de boardgamers conversando sobre o Arkham Horror, por exemplo. Salvo atitudes anti-sociais, ninguém fica ofendido quando alguma opinião sobre estratégia ou da temática do jogo é dada em uma conversa. O jogo de tabuleiro tem regras precisas, tem papéis esperados de cada um dos jogadores e existe uma maneira ditada pelo manual de regras de como se deve jogar aquele jogo. Mas basta mencionar “GNS” ou praticamente qualquer coisa relacionada a estilo, teoria ou técnica em um grupo de RPGistas que uma briga é quase certeza de acontecer.

Uma analogia interessante tirei do blog Deeper in the Game (tradução livre por mim):

Boa parte dos problemas do hobby estão enraízadas uma falha de coneito fundamental.
Imagine que você se jutou com seus amigos para jogar “Cartas”… Um de vocês está jogando Poker, outro está jogando Copas e a última pessoa está jogando Paciência.
Vocês estão todos jogando cartas, não é?
Não vai funcionar. Ninguém vai ter o jogo que ela quer. O problema é que ninugém concordou com um conunto de regras em comum e ninguém está alinhado com o outro. A atividade em grupo em comum que transformam “cartas” em um jogo, não existe.
Você não vê isso com cartas por que todo mundo entende que você precisa estar jogando o mesmo jogo para funcionar. Mas você vê isso com RPGistas o tempo todo.
“OH CÉUS, POWERGAMERS NOVAMENTE.” Espera aí. Isso é exatamente igual a dizer “OH CÉUS, COPAS NOVAMENTE” em uma mesa de Poker. É uma discussão que nem deveria acontecer – alguém quer um jogo diferente – por que estão jogando este jogo com você?

O pior ainda é quando alguém diz “Eu prefiro me divertir” quando está se discutindo algum assunto de RPG, como acontece muito com teoria. Isso é de certa forma até falta de educação, pois implica que o que as pessoas estão fazendo não é divertido pra ninguém. Falta um entendimento comum sobre o que se está falando exatamente, e que sem ele você corre o risco de insultar alguém o tempo todo.

Outra analogia brilhante, dessa vez do Vincent Baker, foi criada para representar as três diferentes agendas criativas. Imagine três pessoas que gostam de porcos. Uma delas gosta de colecionar imagens, esculturas e figuras de porcos em seus mais variados tipos; outro gosta de criar porcos, tem porcos de estimação e admira os porcos como animais inteligentes e racionais, e outro simplesmente gosta de comer porcos. Então eles se reúnem sob uma bandeira de “Adoradores de Porcos”, quando um deles diz “ei galera, essa é a minha receita preferida de porco, qual a de vocês?”.

Perceba que essa divisão não são três interruptores com apenas “ligado” ou “desligado”. Eu posso gostar de comer porco, mas minha receita preferida é de pernil e eu odeio lombo. Eu não vou me interessar em uma receita de um ingrediente que eu não gosto, ainda que eu esteja dentro do “clube das pessoas que gostam de porcos”.

Outra idéia, a de que “não existe jeito certo de se jogar RPG” também não diz nada. Se você gosta de esculturas de porcos de madeira, existem técnicas específicas que produzem esculturas melhores, tipos de madeira melhores, ferramentas mais apropriadas, para este tipo de escultura. Elas não necessariamente vão ser iguais se você prefere esculturas de barro, de pedra, ou pintura em óleo de porcos, mas existe sim uma maneira mais fácil, mais correta (heresia!), de se fazer cada uma delas.

A grande questão é que quando estou falando de RPG, seja de design, de técnicas, de teoria, eu estou falando da minha ótica: do que, dentro do meu conhecimento, é melhor para que eu consiga atingir os objetivos que tenho quando jogo RPG. Enevoar estes objetivos na frase “se divertir” é análogo a pegar um baralho de cartas, distribuir na mesa, dizer “Vamos nos divertir!” e esperar que seja lá o que aconteça depois disso seja um jogo agradável de alguma maneira.

Mas como sempre existem as pessoas que não tem tato ou empatia com outras pessoas, que assumem que a opinião delas deve ser a correta para todo mundo. Para essas pessoas entretanto o problema não é o RPG, e sim qualquer tipo de discussão de idéias que invariavelmente vai terminar em brigas e flame wars. O grande problema é achar que devido a estes trolls anti-sociais a discussão do RPG como um todo perde o valor ou sentido.

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Escrito por Pedro Leone
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