Sentei-me a mesa com a preocupação de fazer uma boa apresentação de Wicked Heroes para os amigos de Campina Grande/PB durante o Dia D RPG Campina Grande, e logo vi algumas pessoas interessadas em experimentá-lo. Infelizmente não levei um maço de cartas de baralho comuns e ninguém no evento dispunha deste item imprescindível ao jogo, por ser o elemento de aleatoriedade utilizado para auxiliar na resolução dos conflitos. O jeito então, foi improvisar com os dados que levei.

Participaram da 1ª sessão de Wicked Heroes o MoisésJeferson, George, Rafael e Agostinho.

O processo de criação foi relativamente rápido, não demorando mais do que 30 minutos, um processo que deixei bem aberto para não entrar em detalhes do sistema e fazer com que todos ficassem bem a vontade. Logo, tínhamos os seguintes personagens:

  • Moisés interpretando um corretor de imóveis com o poder de curar-se de todos os danos, menos os causados por eletricidade e sem nenhuma maldição.
  • Jeferson interpretando um chinês imigrante que trabalha três expedientes, tem garras como poder eódio de japoneses como maldição.
  • George interpretando um nerd com super força e paixão por jogos de videogames.
  • Rafael interpretando uma patricinha estudante de enfermagem capaz de teleportar-se e commedo de altura.
  • Agostinho interpretando um faxineiro de escola primária com o poder de ler mentes e medo de insetos.

A premissa básica fora cumprida, os jogadores haviam construído personagens com vidas normais e com um poder que ao mesmo tempo representa uma benção e uma maldição, ainda mais quando a maldição é levada em conta.

Pessoas normais com poderes e maldições! Nem tudo é igual a Heroes.

A sessão poderia ter sido muito melhor explorada se eu tivesse dedicado um pouco de tempo para construção das relações entre os personagens e tivesse criado uma situação, como numa típica sessão one-shot para eventos, onde os personagens já estivessem em contato, mas como isso não aconteceu, fica pelo menos a lição para organizar melhor as coisas no futuro.

Quando o processo de criação de personagens terminou, fiz algumas perguntas, fazendo com que os jogadores ambientassem seus personagens e tentando buscar ganchos para rolar aquela sessão.

A Aventura

A Corporação Carter, mantendo-se sempre vigilante em relação a relatos de pessoas com super poderes e atividades correlacionadas, descobre que uma célula do Arkanum está agindo na cidade, pondo em risco a vida destas pessoas. Eles designam um colaborador para fazer contato com algumas pessoas que podem estar sendo ameaçadas (os personagens dos jogadores) e então tenta recrutá-los para a Corporação.

 

A primeira pessoa a ser procurada é o corretor de imóveis, a quem Brett (agente da Corporação Carter) faz algumas perguntas. Ele deixa seu cartão com número de telefone e pede para que o corretor o procure imediatamente, pois sua vida pode estar correndo sério risco e ele e as pessoas para quem ele trabalha podem ajudar.

O corretor pede a um estagiário que verifique esse sujeito estranho e logo descobre que ele trabalha para a Corporação Carter, uma entidade beneficente com escritórios espalhados por todo o mundo. Isso deixa o corretor mais intrigado.

Moisés narrando sua conversa com o estagiário é um show a parte! Acho que ele já sofreu muito como estagiário!

Em outro canto da cidade, o nerd com super força, em seu apartamento, recebe uma mensagem criptografada, na qual ele trabalha o dia todo para decodificá-la. Quem quer que fosse que o enviou a mensagem soube como chamar sua atenção. Para sua decepção, após decodificar a mensagem, ele descobre apenas um cartão de visitas de um tal de Brett, colaborador da Corporação Carter, para quem ele liga no dia seguinte, apenas para descobrir que ele já está na sua porta. Os dois conversam, Brett explica que ele pode estar em perigo e gostaria que ele se juntasse ao grupo, mas o nerd fica de pensar na proposta.

Do outro lado da cidade, o chinês recebe uma ligação para fazer uma massagem numa casa de prostituição e sai com sua mobilete. Ao passar um cruzamento ele quase é atropelado por uma patricinha que sai as pressas para ver se o homem na mobilete se machucou. O chinês está com raiva, mas bem, pelo menos até que um segundo carro colide com o carro da patricinha que é lançado para frente e sobre a mobilete do chinês. Do carro um japonês sai furioso, gritando como é que isso pode acontecer?

O chinês, confrontado com seu ódio, pode entrar num estado de fúria incontrolável, na tentativa de dilacerar o japonês. Um dos jogadores joga um dado (com cartas seria muito melhor) e o número que sai é o número da maldição do personagem, então, é cacete mano!

O chinês parte para cima do japonês com fúria, e a patricinha sente uma sensação estranha e ao mesmo tempo familiar naquele rompante de fúria. O japonês é espancado até a inconsciência e o chinês detido por policiais chamados pela patricinha em desespero. Quando o chinês é imobilizado pelos policiais que usamtesers a patricinha, que é estudante de enfermagem, faz os primeiros socorros no japonês. Ao longe, no entanto, ela percebe que o chinês é levado para trás da viatura policial e então colocado num furgão preto que para próximo. Suspeitando da cena, ela anota mentalmente a placa do furgão.

Não consegui pensar em ninguém melhor que ele para ser o Brett da história.

Não muito longe dali, a diretora de uma escola primária recebe o faxineiro, dizendo-lhe que alguns pais e alunos reclamaram de algo nele. Algo que não sabemos explicar, diziam os pais, mas que há de errado nele. Para investigar exatamente o que era essa algo de errado, a diretora opta por dispensar temporariamente os serviços dele até que consiga entender o receio dos pais. O faxineiro volta para casa de bicicleta e é abordado por homens em uma vã que o sequestram.

Antes de ter sua cabeça coberta por um saco de estopa, ele percebe que dentro da vã existe outra pessoa, amarrada e encapuzada dentro do carro. Usando seu poder (ler
a mente das pessoas enquanto em contato físico com elas), enquanto os homens o amarram, ele descobre que eles desejam levá-lo a presença de alguém que eles chamam de Anão e que existe um tal de Arkanum envolvido.

A patricinha procura um detetive da polícia e informa o que ocorreu, dizendo que desconfia que algo estranho possa ter acontecido com o chinês, que embora não seja merecedor de sua compaixão, ainda assim é um ser humano.

O detetive disse que alguém havia entrado em contato com ele e que pediu para que se alguém chegasse até ele com informações sobre o caso, ele fosse contactado. E em poucos minutos Brett chega na sala do detetive, que serve um cafezinho aos dois.

Brett explica a patricinha que sabe que existe algo de errado com ela. Quando o acidente ocorreu ela estava voltando do aeroporto, vindo de uma viagem da Índia, da qual ela nunca pegou avião para chegar lá. Ele explica ainda que existem pessoas correndo perigo e com os poderes dela, ela poderia ajudar essas pessoas. Após um tempo, ele a convence a ajudá-lo e os dois saem em direção ao apartamento do jovem nerd e em seguida a corretora, onde o grupo se reúne pela primeira vez.

Quando estão reunidos dentro de um furgão com Brett, o mesmo explica a situação para os três, dizendo-lhes que duas pessoas foram raptadas por uma célula do Arkanum e que eles devem tentar salvá-los, usando seus poderes. Ele diz ainda que as vidas deles correm perigo, pois se alguns membros do Arkanum encontrá-los, eles não serão nada além de peças descartáveis. Fala também sobre a forma como algumas pessoas acumulam poderes, matando aqueles que os possuem.

Enquanto isso…

Enquanto isso, o chinês e o faxineiro acordam. Um anão fala com eles e diz que eles tem a chance de começar a fazer grandes coisas, mas para isso deixarão as vidas medíocres para trás e se entregarão a um novo estilo de vida.

O faxineiro, é tocado pelo anão – no bom sentido – e usa seu poder, mas descobre apenas uma mente alienígena muito antiga. E então o estampido de um tiro é ouvido longe dali. O anão diz que os inimigos estão atacando e que se eles querem fazer algo extraordinário, devem começar agora.

Usando seu poder, o chinês usa suas garras e liberta-se das amarras, libertando em seguida o faxineiro. O anão, dois homens e os dois ex-prisioneiros correm por um corredor e chegam até um enorme galpão, onde se deparam com um grupo formado por três homens e uma mulher.

Um dos homens (Brett) dispara contra o anão, que consegue esquivar-se das balas, enquanto o chinês procura atacar o nerd. O corretor (que tem poder de regenerar-se) fica sem saber o que fazer, enquanto a mulher corre até o faxineiro que está confuso com a situação e o arrasta, teleportando-o com ela até o furgão.

No furgão ela explica a situação, e usando seus poderes nela, o faxineiro percebe que pode confiar nela, mais do que no anão e fica lá. A mulher volta para o galpão correndo.

O nerd, usando seu poder, arranca uma barra de ferro da parede e manda ver no chinês, que parece empolgado com a briga, mas recebe vários ferimentos e cai.

Só lembrando que os ferimentos são causados por sucessos obtidos ao puxar cartas, que tem o seu número determinado pela situação e pelas motivações dos personagens.

Fim da sessão

Não chegamos ao fim da sessão, mas acredito que o que jogamos deu uma ideia do grande potencial do sistema Wicked Heroes e da simplicidade na resolução de conflitos, que utilizam cartas – usei dados apenas paleativamente – para determinar quem tem sucesso e narra a cena, com sucessos adicionais sendo utilizados para acrescentar detalhes a cena.

Sem dúvida um sistema interessante com potencial para campanhas. Na próxima sessão, que não sei quando ou onde vou mestrar, terei que ter pelo menos um maço de baralho comum, pois a experiência, como foi concordado por todos os jogadores, tende a ficar muito mais dinâmica do que numa adaptação com dados.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos que participaram da sessão e que me permitiram testar este sistema. Sei que alguns gostaram da mecânica e embora não tenha tido tempo no segundo dia – o grupo Trampolim da Aventura teve que sair antes do término do evento – ficou o gostinho de quero mais.

Abraços fraternais no Moisés, Jeferson, Rafael, George (que trouxe um baralho no segundo dia) e Agostinho que proporcionaram uma tarde bacana de entretenimento no mundo imaginário e fantástico dos Heróis Corrompidos.

//Sessão narrada no dia 10 de Setembro de 2011, durante o Dia D RPG em Campina Grande.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.