Dando continuidade ao artigo que começou com a História dos Jogos, que faz parte da palestra ministrada por Tendson Arthur, do Grupo Trampolim da Aventura, no II Encontro de História e História em Quadrinhos que aconteceu na UFRN entre os dias 09 e 13 de novembro de 2009.

Nesta parte vamos tratar sobre os elementos dos jogos de mesa.

“Diga-me que eu ouço, ensina-me que eu recordo, envolva-me que eu aprendo.”
Benjamin Franklin

Os jogos de mesa, especificamente os de tabuleiro – ou board games – tem um vasto potencial educacional, tanto pelas suas características, quanto pela sua variedade. Dentre as várias facetas encontrada nesse instrumento lúdico, algumas que nos chamam a atenção são:

  • Abstração
  • Simulação
  • Lógica
  • Aleatoriedade
  • Estratégia
  • Tática
  • Criatividade
  • Competitividade
  • Cooperatividade
  • Sociabilidade
  • Diversão

Aprofundando estes tópicos teremos:

Abstração

Ao se deparar com acontecimentos e tarefas diárias que são difíceis de se entender ou manipular, lançamos mão da abstração, que é tentar de certa forma condensar e reproduzir de uma forma mais simplificada processos ou acontecimentos para fim de análise e entendimento. Nos jogos de tabuleiro, há uma forte abstração de acontecimentos, processos e feitos, como por exemplo no Xadrez, onde o jogo simplifica um campo de batalha, ou o GO, onde simplificou o controle de área de uma região.

Simulação

Como seria a colonização do Brasil se tivesse sido feita pelos Ingleses, ou mesmo pelo Holandeses? Ou então, como seria governar uma ilha tropical? Ou então participar da construção da Catedral de Notre Dame? Para isso tudo lançamos mão da simulação. Reproduzir um acontecimento ou processo, facilita entender pormenores e também dá a possibilidade de alterar seu resultado final, sem precisar acontecer o fato de verdade. Os jogos são na sua maioria das vezes, simulação do que ocorre na vida real, ou passado, ou futuro. Nos desbruçamos sobre as Grandes Guerras Mundiais (War, Imperial, BattleLore), ou participamos da Colonização de um país (Puerto Rico, Cuba), ou das eleições da Alemanha (Die Macher), ou criamos arrecifes de corais para ajudar no ciclo biológico marinho (Reef Encounter), etc.

Lógica

“Se eu investir nas minhas terras em plantio de Tabaco, vou ter que ter mão-de-obra para produzir em boa quantidade, além de construir uma boa tabacaria, para manufaturar o Tabaco em Charutos e derivados, e assim ganhar mais na venda interna ou exportação – onde o lucro poderá ser maior….” – Uma das soluções tomada numa partida de Puerto Rico. Esta é uma idéia, uma corrente de pensamento, de raciocínio buscando otimizar e não errar para se obter um resultado satisfatório. Chamamos isso de lógica. E os jogos de tabuleiro, principalmente os jogos modernos e em especial os Eurogames, são extremamente lógicos e nos fazem usá-la em abundância. Exemplos não faltam como o Mr. Jack – pura lógica de raciocínio e dedução, Neuland onde seguimos todo o ciclo lógico da matéria-prima à sua transformação final, ou o Agricola, mostrando o ciclo família, trabalho, aprendizado e reprodução que ocorre todo tempo, etc.

Aleatoriedade

“Cara ou Coroa?” – “Não sei a resposta – vou chutar!” – “(… ) É menino ou menina?”. Todos esses exemplos são acontecimentos reais, e nossa vida está cheia de coisas incertas, fora do padrão, ou aleatórias. E os boardgames retratam bem essa faceta, através de instrumentos lúdicos como os dados, as cartas, ou sorteio. As socieadades antigas (Egípcios, Gregos, Romanos, Indu, etc) davam uma importância maior do que a nossa a este fator, tanto que os jogos antigos usavam muito desta mecânica – lançamento de dados, ossos, etc, para se divertir ou passar algum ensinamento filosófico- religioso (Jogo Real de Ur, Senet, Ludo, Gamão).

Estratégia

Uma das palavras mais usada atualmente nos negócios, nas empresas e nas pesquisas. Como a própria definição do nome diz, é alocar recursos e tempo para se conseguir um determinado objetivo. Começou nos campos de batalha, onde o General Grego (chamado de Strategicós) organizava e planejava o que suas tropas deveriam fazer. É facilmente encontrado nos board games, tendo um nicho grande, principalmente nos jogos de Guerra (ou Wargames), e seu maior representante mundial é o jogo Risk (no Brasil chamado WAR). Mas atualmente, os jogos ditos Eurogames usam a estratégia pura para seus jogos tanto de guerra como de administração de recursos e controle de área. Exemplos não faltam como o Antique, PowerGrid, Caylus, Twilight Imperium, etc.

Tática

Muitos jogos, como também em muitas situações da vida teremos que usar de diversos meios para se chegar a um objetivo. Planejamos, traçamos metas, e depois vamos para a parte prática, onde a cada passo fazemos ajustes, desviamos de alguns percursos planejados, mas sempre tentanto atingir a meta. Isso tudo é tática. Ela é um elemento da Estratégia, são manobras que visam o sucesso do planejado. E esse componente são amplamente usados nos jogos de estratégia, e jogos de administração de recursos. Exemplos são Neuroshima Hex! , BattleLore, Antike, StarCraft.

Criatividade

Mesmo tendo, na maioria das vezes, regras rígidas para serem seguidas nos boardgames, verificamos que há um intenso uso da criatividade nas ações, e interações ao redor da mesa. Os jogos chamados de “jogos de grupos”, ou “party games” são exemplos de jogos que trabalham muito bem esse aspecto. O uso da linguagem, a criação de frases, ou idéias, ou como encaixar ou criar determinadas formas ou estruturas é o forte desse estilo de jogo. Exemplos são o Tabu, Ponto de Vista, Perfil, Time’s Up, Ubongo, Dixit.

Competitividade

É uma das excencias do jogo – É o que nos fascina e nos impele a participar, a querer vencer o desafio ali proposto. Competir ou com os adversários da partida, ou competir com o tabuleiro, ou contra o tempo. Mas o que devemos lembrar é que este ato de competir nos traz vencidos e vencedores, e trabalhar esses dois lados é um desafio. O famoso saber ganhar, saber perde – nos faz crescer como seres humanos. Exemplos de jogos com alto grau de competitividade: Battlelore, War (wargames em geral), Small World, Caylus, Twilight Imperium

Cooperatividade

Saber trabalhar em grupo, juntar idéias e forças. Auxiliar para atingir um objetivo em comum, são pontos da cooperação. Um exemplo de uso da cooperatividade nos jogos é o RPG – ou jogos de interpretação de personagens – onde se tem uma história ou roteiro e um grupo de jogadores/heróis que vão trabalhar como uma equipe para vencer os desafios que aparecem no caminho. Existem boardgames que são cooperativos, onde os jogadores travam uma batalha contra o tabuleiro (muitas vezes representado por cartas e ações) que terão um determinado tempo ou número de ações a tomar. Hoje em dia, esses jogos são uma peça-chave no trabalho de inter-relacionamento nas empresas, nas escolas, e nos grupos de pesquisas. Exemplos de jogos cooperativos: RPG (com sua gama de estilos), Battlestar Galactica, Shadows Over Camelot, Arkham Horror, Last Night on Earth, Ghost Stories.

Sociabilidade

Saber viver em grupo. Participar de um projeto. Compartilhar idéias, opiniões. Queira ou não somos seres sociáveis, e precisamos saber viver uns com os outros. E um dos grandes aspectos dos board games é a sociabilização, visto que normalmente os jogos são eventos que reune grupos de pessoas ao redor de uma mesa para interagir no universo ludico criado (mesmo havendo um alto grau de competitivade em alguns jogos). Mas há jogos altamente sociáveis, como o próprio RPG, anteriormente comentado, e outros como Tabu, Time’s Up, Ponto de Vista, Perfil, Dixit, Pictureka.

Diversão

Diversão está ligado ao prazer, ou passatempo, descontração.E esse ítem é primordial nos jogos de tabuleiro. Sem ela, o jogo fica desagradável, chato e perde-se o interesse. Um dos grandes desafios é unir o estudo/trabalho – atividades muitas vezes sérias e estressantes – com diversão, mesmo que seja em alguns aspectos. Há também a diversão pós estudo/trabalho. E em todos os boardgames se prestam perfeitamente como uma alternativa de diversão. Os franceses o chamam de ócio criativo. É nesse universo lúdico, divertido que os homens e mulheres aprendem a trabalhar em conjunto, usando seu intelecto e conceitos para vencerem os desafios impostos pelas regras impostas. Exemplos de jogos divertidos: todos os bons jogos, pois os que não atigem esse objetivo não serão mais jogados.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.