Já li em alguns locais, algumas vezes escritas de forma cômica, textos assim: “como o RPG mudou a minha vida“, “como eu me tornei uma pessoa melhor com o RPG” e até “como o RPG acabou comigo“.

Sempre que esses textos aparecem na internet, são sempre acompanhados de polêmicas, algumas vezes polêmicas injustificadas.

Particularmente não posso falar pelos outros e nem irei falar com eloqüência da minha experiência, pois das inúmeras pessoas com as quais já tive contato, percebi que cada uma delas vivencia o hobbie de uma forma diferente e pode ou não desenvolver certas aptidões em virtude do RPG.

Desde criança eu gostei de ler e conheci o RPG logo após de ter comprado um Playstation. O video game nunca foi ligado por mim, pois tão logo comprado foi vendido para que eu comprasse por R$150,00 os três livros básicos de AD&D 2ª Edição e isso foi no finalzinho de 1995.

Antes de adquirir os três livros básicos, eu já jogava com o First Quest, o qual interpretei Beldar o Guerreiro na primeira aventura e por contestar algumas coisas quando a li, fui intimado a narrar as demais aventuras. Narrei as outras três aventuras e desde então tenho narrado, com poucas excessões e sempre quando jogando com outros grupos.

Minhas melhores amizades foram conquistadas dentro do RPG – meus dois padrinhos de casamento eu conheci praticamente com o RPG. A maioria das pessoas que hoje considero como sendo meus melhores amigos, conheci por intermédio do RPG.

Comecei a comprar vários livros de RPG e em 1997 não tinha livro em português que eu não tivesse lido (de AD&D) e então resolvi partir para os livros em inglês, mas tinha um problema: eu não sabia nada além do “verbo to be” aprendido na escola pública (hoje as coisas estão bem melhores) e resolvi aprender inglês na marra. Comprei um livro de Undermountain e troquei esse livro numa cópia xerocada do Complete Fighter Handbook e comecei a traduzir página por página com o auxílio de um mini-dicionário Michaelis. Definitivamente não foi fácil, mas eu tinha um objetivo: entender aqueles conteúdos fantásticos e trabalhei com afinco. Anos mais tarde consegui fazer um curso de inglês, mas o aprendido de forma autodidata foi um diferencial.

Os vários anos de experiência narrando me deram certa desenvoltura que me foram muito úteis quando iniciei minha vida como professor e o hábito de pesquisar também me foram bem úteis e contribuíram para a minha formação como pesquisador.

Tenho certeza que não escrevo tão bem quanto eu gostaria e tenho consciência que sou bem prolixo, embora isso contradiga a minha formação tecnológica, mas gostaria de um dia escrever um livro, de fantasia é claro.

Eu estava terminando o texto quando me lembrei que não se pode falar somente das coisas boas, afinal, não estou aqui para ser tendencioso (embora seja impossível não sê-lo). O RPG substitui o álcool que eu não bebo, a droga que eu não consumo e o cigarro que eu não fumo, pois tenho certeza, sou dependente de saber novidades, de criar histórias, de desenvolver tramas, mas acho que isso é um vício construtivo, vai saber!

Bem, mas isso, esperando não ter sido muito prolixo no início, é para ilustrar um fato. A maioria das pessoas que jogam comigo não gostam de ler, não tem grandes interesses em criar históricos dos personagens, não gostam de acessar a internet para ver as novidades sobre o RPG, embora, quando instigados, adoram fazer certas apelações (mas isso foi na terceira edição, que Amaunator a tenha).

Se eu perguntar pra eles o que eles ganharam com o RPG, com certeza as respostas seriam bem diferentes das minhas, pois as experiências são, com certeza, diferentes, mas tenho certeza absoluta que um ponto é comum a todos, o RPG nos fez grandes amigos.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.