Já faz algum tempo que venho tentando encontrar uma fórmula para criar personagens crianças nos meus jogos preferidos, sem ter que recorrer a um outro título mais voltado para esse tipo de aventura.

O Hero Kids, citado por muitos jogadores como uma boa porta de entrada de crianças ao hobbie, não tem a meu ver um diferencial tão grande assim, abordando, inclusive os mesmos pilares de RPGs como Dungeons & Dragons.

Em algumas aventuras que já mestrei para D&D e Mythras, sempre pensei que algumas situações poderiam ser bem exploradas por personagens crianças, mas a falta de regras específicas para isso, sempre me incomodaram.

Em D&D 5E e Mythras, personagens iniciantes já começam com um considerável nível de poder. Em D&D eles são aventureiros e aventureiras experientes inclusive, enquanto em Mythras eles podem ser mais poderosos caso sejam mais velhos ou sejam bastante experimentados – não necessariamente em batalhas.

No artigo Playing younger characters – D&D 5E, publicado no site Tribality, a solução encontrada é elegante. Existem tabelas com o que seriam as idades, ajustes de habilidades, etc. Mas ainda assim, são personagens com potencial quase máximo.

O Misanthropester apresenta vários personagens crianças para serem usados em aventuras de D&D, no artigo Children of the Realm, mas adivinhem: eles também são criadas como personagens normais de D&D.

Anões, elfos e gnomos, por exemplo, não sofrem nenhuma penalidade em seus atributos por serem mais novos, enquanto algumas raças, como os Pequeninos, ganham +3 em Destreza. O que acontece com essa destreza quando eles ficam mais velhos?

Nem mesmo nos Complete Books de AD&D 2ª Edição, que detalha as raças, fornecendo importantes informações sobre a infância das raças, temos informações sobre personagens crianças.

E se pensam que vou dizer que Mythras tem… bem, ele também não tem, mas possibilita que criemos um personagem criança com um pouco mais de facilidade, embora não sem um determinado trabalho.

Eu entendo que o objetivo do Tribality e do Misanthropester, ao deixar os personagens com o mesmo nível de poder, seja nivelar, sem complicações, seus níveis de poder, principalmente se a proposta do jogo envolver todos os jogadores interpretando crianças – fica mais fácil -, mas uma parte da proposta que eu imaginava, se perde.

Outra opção seria inserir as propostas de personagens de nível zero, sendo que uma das propostas é apresentada no site do DM Dave, no artigo Zero Level Characters (Prototype) | New Rules for Fifth Edition.

Mais recentemente, o Rafael Lima, do Mundos Colidem, lançou o Crianças Enxeridas, baseada no Lima System (coisa de primeira), para ser jogado com crianças.

Mas voltando aos meus sistemas preferidos, como já disse anteriormente, nada fácil encontrar material, então vamos a algumas pequenas adaptações.

Crianças em Mythras

Com a ajuda de um dos criadores do Mythras, o Sr. Lawrence Whitaker, criamos uma regrinha para jogar com personagens crianças, usando as seguintes premissas.

(a) A determinação das habilidades (atributos em D&D) em Mythras é feita de maneira muito similar ao D&D, jogando um conjunto de dados (normalmente 3d6) para cada uma das habilidades, com exceção de Tamanho e Inteligência, que são determinados jogando-se 2d6+6.

(b) Personagens crianças possuem Força e Tamanho jogados em uma escala menor, 2d6+1 e 1d3+6 respectivamente (similar aos Halflings).

(c) O que realmente determina o nível de expertise dos personagens são as suas graduações nas perícias, que são determinadas a partir de três elementos: (1) cultura; (2) profissão e; (3) bônus que refletem a experiência do personagem (incluindo a parte por idade).

Um personagem criança, teria perícias associadas apenas a sua cultura (100 pontos) distribuídos entre perícias básicas e profissionais, estas últimas refletindo aquele conhecimento mais básico que elas adquirem em função de suas experiências com os adultos.

Exclui-se portanto, a parcela relacionada a profissão (mais 100 pontos), que está associada às comunidades profissionais as quais os jovens são iniciados no fim da infância. Também não tem direito às perícias bônus (150 ou mais pontos), que refletem as especializações dos personagens.

Potencial Máximo

Diferente de D&D, as personagens em Mythras não aumentam suas características naturalmente à medida que evoluem. Para que eles evoluam, suas habilidades precisam estar abaixo do valor máximo permitido para a sua raça (18 para todas as habilidades em humanos) e devem travar Jogadas de Experiência para manter um aumento. Seria o equivalente a fazer academia, dedicar-se com afinco aos estudos, etc., embora não dê para aumentar o seu Tamanho de forma natural. Caso o treinamento cesse, os pontos de características retornam depois de um tempo ao seu valor máximo.

Como fazer?

Uma vez que as características Constituição, Destreza, Inteligência, Poder e Carisma, não vão se alterar, não precisamos nos preocupar com eles, caso desejemos mestrar uma aventura na qual acompanhamos o crescimento de um grupo de crianças, como na série Vikings.

Podemos determinar os valores máximos de Força e Tamanho, jogando 3d6 para cada um deles, e então fazer com que o personagem aumente os valores para a personagem criança até o valor máximo a medida que envelhece, numa razão adequada.

Por exemplo, supomos que o grupo esteja jogando com um personagem criança de 8 anos, que obteve 9 em tamanho (1d3+6) e determinou com potencial máximo do personagem adulto 18 (em 3d6).

Considerando que de acordo com algumas informações, crescemos até os 18 anos, a personagem poderia aumentar quase um ponto a cada aniversário até completar 17 anos, quando atingiria o seu potencial máximo.

A criação

Determine Habilidades

Força: 2d6+1
Constituição: 3d6
Tamanho: 1d3+6
Destreza: 3d6
Inteligência: 2d6+6
Poder: 3d6
Carisma: 3d6

Determine os Atributos

A partir dos valores das habilidades, determine os valores dos atributos:

  • Pontos de ação
  • Modificador de dano
  • Modificador de experiência
  • Taxa de cura
  • Altura e peso
  • Pontos de vida
  • Bônus de Iniciativa
  • Pontos de sorte
  • Pontos de magia
  • Taxa de Movimento

Escolha a sua Cultura

Escolha a sua cultura, entre Bárbara, Civilizada, Nômade e Primitiva, e de acordo com as perícias básicas e profissionais escolhidas, distribua 100 pontos entre elas, limitadas a no máximo 10 pontos por perícia.

As perícias relacionadas à cultura, referem-se aquelas coisas que normalmente as crianças fazem e nas quais se desenvolvem antes de serem obrigadas a escolher uma profissão.

Profissão e pontos bônus

Os pontos de perícias advindos da profissão e dos bônus, este último relacionado a experiência e idade da personagem, não são utilizados na criação de personagens crianças.

Determine a Classe Social

Determine a classe social da personagem, ou melhor, dos pais da personagem, baseado na cultura na qual ela está inserida.

Uma criança certamente não precisará de muitas moedas de prata, mas precisará de equipamentos, em alguns casos, até mesmo armaduras, que são confeccionados especialmente para os menores, embora sejam extremamente incomuns.

Família

Determine as informações relacionadas ao núcleo familiar da personagem, utilizando as tabelas na página 25 do Mythras.

Aliados, contatos, rivais e inimigos

Essa seção deve ser utilizada se o mestre achar necessário adicionar mais alguns elementos que possam ajudá-lo a desenvolver a narrativa. Para crianças, um inimigo pode ser um valentão, enquanto um rival, um amigo que está sempre competindo com a personagem.


Espero que o artigo seja útil e tão logo o coloque em prática, falarei um pouco mais sobre isso.

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Escrito por Franciolli Araújo
Esposo de Paula, pai de Pedro e Nathanael. Professor e pesquisador na área de mineração. Um sujeito indeterminado que gosta de contar histórias e escrever sobre elas e acredita que o RPG é o hobbie perfeito, embora existam controvérsias.